"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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terça-feira, 18 de outubro de 2011

O voltar-se para dentro de si...



"Santo assassino"  




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Estamos acostumados a ouvir histórias de santos que desde a infância tiveram uma adesão humilde e forte à fé recebida em seu santo Batismo. Santos que se tornaram notáveis pelo amor incondicional à Igreja e ao próximo. Santos que gozavam de tamanha fé que lhes permitia operarem grandes milagres. Isto fez com que alguns encarassem a santidade como algo extraordinário, impossível de ser alcançado. Eis a razão pela qual muitos se escandalizaram quando foi encerrada a fase de informação diocesana e aberto o processo de beatificação de Jacques Fesch, jovem francês, condenado à prisão e finalmente executado na guilhotina há 53 anos, por ter matado um policial e ferido um funcionário de uma casa de câmbio numa tentativa de roubo.

Nascido em família rica, filho de um poderoso banqueiro belga, ateu e adúltero, indiferente quanto à formação religiosa de seus filhos. Não possuía gosto pelos estudos. Foi enviado à Alemanha para combater pelo exército francês. Depois de ter prestado serviço militar, foi-lhe arranjado um emprego com alto salário em um banco, sendo demitido após três meses. Levava uma vida mundana. Com fama de playboy, era dado à bebedeiras e frequentemente se envolvia com prostitutas. Casou-se aos 21 anos numa cerimônia civil com Pierrette Polack, filha da vizinha, que estava esperando um filho seu. Seus pais, antissemitas, não aceitaram o fato de sua nora ser filha de pai judeu. Não obstante o nascimento da filha, o jovem Fesch continuou a se encontrar com outras mulheres. Desses encontros nasceu Gérard, filho bastardo que foi entregue aos cuidados de um orfanato. Logo após, o casal se divorciou.

Inquieto e deprimido, pretendendo fugir das responsabilidades da família que, muito jovem, havia formado, decidiu empreender uma navegação solitária em redor do mundo. Pediu a seus pais a ajuda financeira necessária para comprar um barco e realizar tal viagem. Eles, não compreendendo a delicada situação emocional de seu filho, tendo-o por desequilibrado e ilusionista, negaram todo o apoio. A fim de conseguir recursos para o seu plano, acertou com o famoso cambista Alexander Silberstein a troca de dois milhões de francos por barras de ouro. No entardecer do dia 25 de fevereiro de 1954, dirige-se à casa de câmbio. Lá, apontou um revólver e exigiu a entrega do dinheiro que estava guardado na registradora. O cambista reagiu, sendo atingido com duas coronhadas na cabeça. Enquanto fugia com a quantia roubada, por meio de uma rua movimentada, deparou-se com um policial, Jean Vergne, de 35 anos, viúvo e pai de uma filha pequena. O policial, que havia sido alertado por alguém que estava a passar, de que aquele jovem havia assaltado uma casa de câmbio, ordenou que ele parasse e se entregasse. Hesitante, o jovem atirou três vezes, o que custou a vida do policial. Revoltada, a multidão começou a perseguir o assassino, que continuava a atirar, ferindo uma moça no pescoço. Finalmente, ele se rendeu e foi preso.


domingo, 16 de outubro de 2011

Evágrio Pôntico (sobre a oração)





Evágrio Pôntico - séc. IV


Traduzido por Jean Gouillard



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Originário da Capadócia, discípulo de são Gregório Nazianzeno, passou os últimos dezesseis anos de sua vida no Egito, como anacoreta.

Herdeiro dos grandes Alexandrinos, Clemente e Orígenes, ele cunhou, sob a nova forma da centúria espiritual, os princípios de uma mística decididamente intelectualista. A ascensão espiritual consiste em reintegrar a alma na «contemplação primeira», em que ela verá a Deus em si mesma, como num espelho. No caminho, o espírito - o noüs - terá de se despojar dos pensamentos apaixonados; depois, mesmo dos próprios pensamentos simples, até a completa nudez de imagens, de conceitos e de formas. A contemplação primeira será então realizada e, com ela, a oração perfeitamente pura, que é apenas outro nome daquela.

Evágrio conduz uma das grandes correntes da espiritualidade bizantina. João Clímaco, Máximo, o Confessor, Simeão, o Novo Teólogo, os Hesicastas, são seus herdeiros. Implicado na condenação do origenismo (em 553), acham desagradável citá-lo, mas ele penetra em toda parte: plagiam-no ou reproduzem-no, com o inconveniente de anatematizá-lo na passagem, como João Clímaco, por exemplo.

A Filocalia - deixando de Lado o bem Laborioso e às vezes pueril «Evágrio do pobre», assinado Teodoro de Edessa - apresenta quatro textos do Pôntico: Esboço da vida monástica (P.G. t. 40., cc. 251s.), Discernimento das paixões e dos pensamentos (P.G. t. 79, cc. 1199s.), Trechos escolhidos nos capítulos sobre a sobriedade (P.G. 40, Capita pract. passim) e finalmente, sob o nome de Nilo, Tratado sobre a oração (P.G. t. 79, cc. 1165-1200), ao qual nos limitaremos aqui, considerando de bem perto a preciosa interpretação do Pe. I. Hausberr, que é um «Evágrio comentado por ele mesmo».

Sem falar da oração do coração, Evágrio destaca, com insistência, um certo número de traços encontrados de ponta a ponta da Tradição: guarda do coração, despojamento do espírito; simplificação da oração; ilusões, imagens, formas etc.


2. A purificação, da alma, através da plenitude das virtudes, torna a disposição da inteligência inabalável e apta a receber o estado procurado.

3. A oração é uma conversa da inteligência com Deus: que estado não é, pois, necessário, para essa tensão sem retorno, para ir a seu Senhor e conversar com ele, sem nenhum intermediário?

4. Moisés, quando quis aproximar-se da sarça ardente, foi impedido de fazê-lo, até que tirasse os sapatos. E tu, que pretendes ver Aquele que ultrapassa todo pensamento e todo sentimento, como não te libertas de todo pensamento apaixonado?

5. Primeiramente, ora para obter o dom das lágrimas; assim, poderás suavizar, pela compunção, a dureza inerente à tua alma e, confessando tua iniqüidade contra ti, ao Senhor, obter dele o perdão.

9. Mantém-te corajoso e ora com energia; afasta as preocupações e as reflexões que se apresentarem, pois elas te perturbam e te agitam, debilitando o teu vigor.

10. Os demônios te vêem cheio de ardor pela verdadeira oração? Eles te sugerem, então, o pensamento de certas coisas, que te apresentam como necessárias. Depois, não tardam a avivar a lembrança que a elas se liga, levando a inteligência a procurá-las. A inteligência não as encontra, entristece-se profundamente e se aflige. Chegado o momento da oração, eles devolvem então à memória os objetos de suas buscas e de suas lembranças; assim, enfraquecida por essas associações, ela não, vai conseguir realizar a oração proveitosa.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A pureza de Coração






***



É nas palavras de Jesus que podemos encontrar um melhor entendimento sobre a pureza de coração ao se dirigir ao povo em seu discurso no sermão da montanha.[1]

Em primeiro lugar, é importante ressaltar aqui o papel de Jesus ao considerar sua posição diante daqueles a quem se dirigia; Ele está no monte. Esta posição de Jesus sobre o monte, diante de uma multidão que o escutava, nos faz lembrar os antigos legisladores da lei, a saber, Moisés, conhecido como o grande legislador ou intérprete da lei divina, que reuniu o povo cativo em marcha para o lugar onde Deus mesmo havia indicado – a terra da promessa – embora não a tivesse conhecido.

Com toda a experiência vivida por aquele povo que O seguia – marcado pelo sofrimento e a dor – ao sublinharmos a consideração sob o contexto em que se econtrava, desfigurou-se ao longo dos séculos de história, notadamente pelo afastamento de Deus e as conseqüências desse desligamento que lhes são esperadas, a verdadeira imagem divina em seu coração já fatigado pela humilhação e o poder romano que o dominava. Desta real situação se confunde, quase como que imperceptível ante os olhos das massas, e se insurge – por assim dizer – como fato gritante, ainda que tênue, mas expressivo em seu real e profundo desejo de contemplação de Deus.

Assim nos apresenta Jesus seguido de seu discurso:

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus” (Mt 5, 8).

Ora, contemplar a face de alguém que reconhecemos haver uma estreita ligação, segundo os cuidados que recebemos ao longo do caminho é reconfortante e revigorador em nosso espírito, ou seja, da alegria da alma. Podemos citar o olhar da criança que a todo o momento busca e se alegra, ao reconhecer em seus pais o porto seguro de sua vida, que ao se criar por meio da presença reconhecida, a constatação de bem e prazer, o acolhem como o gozo de seu momento único.

Por certo, este mesmo prazer é a certeza que se estabelece para o desbravamento do mundo com a confiança devida em detrimento dos perigos que sua imaginação ou intuição aponta e que tem sua razão de ser no conhecimento superficial ou concreto do meio em que vive.

Um outro aspecto de compreensão do que vem a ser a ‘contemplação de Deus’ está ligado com a verdade, distanciada, apartada da hipocrisia, ou seja, está ligada àquela atitude capaz de detectar e aceitar aquilo que ‘é’ sem o prejuízo de nossas pré-concepções ou julgamentos, atrelados ao nosso pré-conceito sobre a real definição das coisas ou acontecimentos, etc.

Em outras palavras, ter o ‘coração puro’, “Capax Dei” (capaz de Deus), é estar sempre aberto em acolher aquilo o que de fato ‘é’ – ainda que envolto em seu problema característico – sem as nuanças da instabilidade de nossas vãs certezas, ou se preferir, de tudo aquilo que nos afasta de nossas experiências reais e concretas, somadas à verdadeira intenção de coração.

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus

Não podemos fugir à realidade de nosso pré-conceito (ou julgamento) sobre nós mesmos, sobre os outros e Deus, ao se tratar da real ‘visão do objeto que se almeja tocar’. Está aqui, a meu ver, mais uma vez, quase que como uma repetição, ao podermos identificar nessa atitude tão corriqueira em nosso dia-a-dia, como sendo o fundamento que nos impede da contemplação ‘real’ e ‘pura’ que se atrela ao apego desmedido da imaginação tão presente, encarnada e tentadora de nossos ‘achismos’.

Para os pais do deserto, a primeira batalha empreendida na vida espiritual começava sempre no terreno das imaginações, pelo fato de ser aí o espaço favorável da ação demoníaca que se esforça ininterruptamente[2] em nos confundir e distorcer a real imagem das coisas, de nós mesmos, dos outros e conseqüentemente de Deus.

No decorrer da caminhada monástica que tracei, ouvi uma vez um ancião monge e sábio dizer: “Quanto mais idealizamos Deus, mas Ele se afasta de nós tão grande é a Sua realidade”.

Na esfera de nossas relações com o próximo não lhe caberia aqui a mesma sentença, visto que o homem também é um mistério? No âmbito da natureza criada, constatamos a cada dia as surpreendentes conquistas e descobertas que parecem não estar finalizadas, visto que há muito mais a ser desvendado diante do grande mistério que é o mundo, mediante, é claro, uma busca sincera e benévola.

O fato é que, encontramos ao nosso redor a forma de exercitarmos na compreensão, ou então aceitação de nossos limites na apreensão do mundo onde nós mesmos estamos inseridos para só assim ascendermos ao conhecimento de Deus.

O primeiro lugar a ser reconhecido nessa busca é o próprio interior de cada coração com tudo o que existe aí, com toda a sua verdade, onde, como o ouro em meio aos vermes ou o diamante em sua forma bruta, ou ainda como uma linda flor que se desabrocha da lama ao revelar por meio desse fenômeno a presença misteriosa de Deus, que por vezes se encontra despercebido por conta de nossa negação.

Pois desta verdade temos a narrativa dos evangelistas Lucas e Mateus seguida de resposta do próprio Jesus: “Os fariseus perguntaram um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes então: O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Mt 7, 20-21).

O Reino de Deus é o ápice por assim dizer do que vem a ser de fato o estado de Sua presença no homem; algo conquistado por meio de uma experiência íntima, e como o termo já o revela, engloba toda a vida do homem em sua particularidade.







By Maurus


[1] Cf. Mt 5, 1-48.
[2] Cf.1 Pd 5, 8.


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