"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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sábado, 13 de agosto de 2011

O bem e o mal


As duas realidades no homem



É sabido pela experiência de cada pessoa, mesmo quando por algum motivo não se pode enxergar em si mesmo, que há sempre nas ações contidas dos homens a dualidade do bem e do mal que por vezes se nos apresenta em determinados momentos de nosso quotidiano.
Em alguns certamente, o bem e o mal podem ter uma conotação e manifestação diferentes que variam segundo o caráter particular de cada um, mas, que não se pode jamais ser negado, ou sequer ser tratado com indiferença, que os mesmos estejam intrinsecamente ligados por meio de um convívio, para alguns, extremamente conturbado, como sendo parte de uma realidade única que é a pessoa humana.
Estas duas realidades nos indicam a difícil arte do controle de nós mesmos, que horas oscila, a depender da situação vivida, mas, que também pode ser aplacada no momento de confronto conforme a orientação que recebemos e acolhemos como sendo verdade a ser seguida.
Para o cristianismo e as grandes religiões, que já desde antes existiram, o trabalho é de conter o ímpeto do mal que se mistura com o que existe de mais natural[1] e bom em cada pessoa, segundo sua origem, em vista de si mesmo, do outro e de Deus, de quem se obtém toda a força no seguimento do bom propósito.
Em Sua missão, Jesus não deixou de exortar aos seus seguidores sobre a atenção que se deve dispensar ao espírito do mal, não é ignorá-lo, é uma realidade que subsiste independente da cultura, raça, credo, etc., e que divide os homens entre si.
É preciso haver no confronto, sobretudo com o mal, um diálogo que o redima e o aplaque. Sobre esse assunto o próprio Cristo fez menção:

“Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo”.[2]

Este é por certo um olhar exclusivamente cristão, e que redime, recomendado por Cristo em relação ao possível inimigo que nos persegue – e este pode vir a ser interno – no tocante ao espírito e a moral, ao fazer o paralelo em Seu discurso onde Jesus personaliza a pessoa e seu adversário.
Certamente deve haver uma dinâmica divina contida no mistério que é o ser humano, em insistir nessa presença dualista em suas criaturas – entre o que é bom e o que é mal – aqui mais especificamente no homem como um todo e complexo.
Acolhendo o conselho de Jesus, não devemos permitir que o confronto com o mal seja de repúdio e indiferença, pois, tal ação só lhe fortificaria ainda mais; é preciso estabelecer um diálogo que o redima e não lhe devolver na mesma moeda, como assim o mesmo nos adverte em outra passagem:

“Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”.[3] 

O mal se nutre daquilo que é mau, assim como o bem se nutre daquilo que é bom. Sem dúvida alguma se nos confrontamos com uma experiência do mal – que repentinamente nos assalta – e o revidamos com a mesma medida que o dele, a saber, com o ódio, a violência, a inveja, etc., seguramente serão os meios que lhe proporcionarão maior poder; mas, se o respondemos com o bem e seus atributos como, o amor, a compreensão, a paz, etc., com toda certeza este será aplacado.
Entenda-se aqui, que, ser ‘aplacado’ não significa estar livre para sempre do mal que nos persegue, como nosso adversário interno ou externo. O combate empreendido com as armas do bem é meio eficaz pelo qual se aplaca sua força, mas, ele continua a existir todo o tempo, talvez esperando mais adiante uma brecha, um consentimento de nossa vontade inconsciente ou consciente, para poder se manifestar com mais energia do que antes.
Em todas as culturas religiosas o discurso sobre o bem e o mal é mencionado cada uma de acordo com a sua experiência, e denominados segundo o conhecimento apreendido ou revelado. Assim temos na cultura judeu/cristã o bem e o mal como sendo chamados de ‘anjo’ e ‘demônio’.

Podemos ver a seguir o pensamento de alguns filósofos a respeito deste assunto:

# “Nós vemos os opostos (bem e mal) e Deus vê harmonia” Heráclito

# “A bondade não é uma questão de ação; depende do desejo interior do homem. O homem bom não é o que pratica o bem, mas o que deseja praticá-lo sempre” Demóclito

# "O homem é a medida de todas as coisas e Cada um tem o direito de determinar, por si, o que é o bem e o que é o mal. É CAOS”  Protágoras

# “O mais elevado bem que se pode medir tudo é o conhecimento” Sócrates

# “O mundo dos sentidos, doutrinava ele, é irreal, transitório e mutável. Eis o mal. O verdadeiro mundo das idéias puras e imutáveis é o do bem” Platão

# “O bem é a atitude racional para com as sensações e os desejos” Aristóteles

# “O mais alto bem do homem está em agir em harmonia com o mundo”  Estóicos

# “O mal é ausência do bem, da mesma maneira que as trevas são a ausência da luz” Santo Agostinho

# “Justiça e injustiça de um ato não estão no ato em si, porém na intenção de quem o pratica”  Abelardo

# “O mais elevado bem é a concretização de si mesmo conforme Deus ordenou” Santo Tomás de Aquino

# “Aquilo que agrada ao homem é bom e o que lhe causa dor ou desconforto é ruim”  Thomas Hobbes (materialista)

# “O esforço de se preservar é um bem; o que entrava esse esforço é um mal”  Espinosa

# “Se o agente pratica o ato com boas intenções, respeitando as leis morais, o ato é bom” Kant

Essa constatação de bem e mal está contida na experiência universal, as mais diversas de sociedade que o homem possa ter organizado para poder viver. De uma pequena tribo encravada, perdida na floresta, até a mais desenvolvida metrópole – com toda sua realidade contextual – em relação aos maiores desafios que aí se pode encontrar, a existência dessas duas realidades no homem é uma constante, cada uma em sua cultura característica.
Para melhor ilustrar, recolhi o conto abaixo como modelo, na compreensão dessa esfera tão presente e que por certo nos define neste mundo, ainda que não seja de todo determinante para aquilo que podemos transcender ao tomar consciência destas duas verdades.

Assim nos é transmitido o conto:

Os dois lobos




“Vivia numa aldeia... bem distante do agito das grandes civilizações, um ancião índio muito sábio.
Certo dia, o velho experimentado nos anos fora abordado por um jovem – seguramente seu filho mais moço – quanto às verdades de seus sentimentos os mais internos e profundos, o qual lhe indagou:
- Diga-me meu pai, como devo agir sobres às questões que movem minhas ações e que por certo são decorrentes de meu desejo?!
Em um breve momento de silêncio, olhou para o chão... como que reconstituindo na lembrança toda a sua experiência de vida vivenciada até então; em seguida, o ancião olhou-o afetuosamente nos olhos e lhe disse:
- ‘Meu querido filho, dentro de mim, e acredito que seja igual para você e todos os homens, existem dois tipos de lobos. Um deles é feroz, cruel e mau. O outro é muito bom, pacífico e amável, mas, o que acontece é que os dois estão constantemente em batalha em nosso interior’.
Admirado, mas confuso pela incógnita de sua constatação, sem ainda entender, o jovem rapaz tornou a perguntar:
- ‘Mas... nessa batalha constante, qual dos dois lobos é o vencedor’?
Com um sorriso sereno e sutil o ancião olhou para o jovem e lhe disse:
- ‘Aquele que alimentamos’.”[4]






Maurus

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[1] Em filosofia, ‘natural’ quer aqui significar o que concerne a lei natural compreendida também como divina, impetrada no coração de cada ser humano desde sua criação conforme o relato Javista, e que podemos observar na confissão judeu/cristã.
[2] Cf. Mt 5, 25-26.
[3] Cf. Mt 5, 39.
[4] Sabedoria indígena, autor desconhecido.

Um comentário:

  1. Caro Mauro.Abraços fraternais

    Estou maravilhada com seu blog, em tudo merece nossa carinho e admiração. Fico feliz com essa sua nova empreitada. Parabéns! Candinha

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