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Com a inauguração do Cristianismo,
o mundo pôde perceber, respirar um novo ar, na medida em que gradativamente se
abria à uma grande novidade, ‘a exaltação do homem e sua dignidade’, com o
surgimento do Filho de Deus na terra. O salmista de forma toda particular e
precisa já o mencionara quando inspirado em suas preces escreveu:
“Está perto a salvação dos que o
temem, e a glória habitará em nossa terra”.
Sl 84,10.
E continua:
“A verdade e o amor se
encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a
justiça olhará dos altos céus” Sl 84,11.
Estes versículos podem nos dar pistas
para uma reflexão na compreensão do que foi o homem no passado, e de certa
forma nos abrir os olhos para quem é o homem no presente ao passo que nos
dobramos em questionar sobre o que será do mesmo no futuro a partir do advento
de Cristo, mais precisamente de Sua mensagem libertadora em nosso meio, como de
Seu projeto ao longo dos séculos, até os nossos dias.
A partir de um olhar que
contempla a história humana presente, podemos dizer que o homem de alguma forma
chegou, embora não ainda de forma completa, ao que Deus realmente sonha ao
pensar na humanidade. Se por um lado existe ainda um certo tipo de mal,
proveniente do egoísmo no coração do homem a ser sanado, por outro, podemos
denotar mesmo que a passos lentos, o progresso do mesmo em vista do bem que
contemple o homem todo em suas reais necessidades, quer materiais ou
espirituais.
Faz-se mister recordar aqui, em
se tratando de tão grande mistério, o fator colaborativo e indispensável de uma
mulher, escolhida dentre tantas outras como a única no decorrer de gerações
passadas e que estão por vir, para tornar possível este acontecimento da
redenção do homem. Ora, toda redenção está ligada sob o contexto cristão como o
reposicionamento do verdadeiro lugar do ser humano segundo o olhar de Deus.
Refere-se, portanto, a sua liberdade no que existe de mais singular e que de
certa forma se configura com o seu Criador.
O Concílio de Éfeso (sec. V),
num labor incansável, com o intuito de unir essa realidade divina de Cristo à
realidade humana adquirida pela concepção no seio da Virgem Maria, quis
chamá-la de Theotokos (Mãe de Deus), declarando dessa forma para todos os
crentes e todo o mundo que a humanidade do filho deveria ser compreendida na
mesma medida que Sua realidade como Deus.
Não há relatos no mundo dos
mortais, já que a vinda de Cristo aqui na terra tem sua concretização
histórica, em que se ouvira falar num Deus que, existindo desde sempre sob um
plano para além de nosso entendimento, tivesse tomado para si um corpo
semelhante ao dos homens.
O montante de leis, como é
sabido e vivenciado em nosso contexto quotidiano, por mais que se esforce em
querer apresentar-se aparentemente como um bem no meio da sociedade, segundo os
múltiplos modelos existentes no orbe, revela sob outro ângulo como o homem,
ainda cativo de sua má propensão, não é totalmente livre, já que a lei está
sempre em vista de nossas ações insubordinadas.
Seguindo esse modelo de
pensamento, voltamos nossa atenção para os feitos de Cristo, o Jesus histórico,
ao identificar toda a Sua missão com o propósito firme de realizar o projeto de
Seu Pai, com a instauração de Seu Reio aqui no mundo. Aliás, esse foi o Seu
único desejo, tão grande era o Seu amor incondicional a tudo o que se referisse
à vontade suprema em relação à salvação dos homens.
Ao passar pelo mundo, o Cristo,
Jesus de Nazareth, nos revelou o caminho do qual Ele mesmo é pontífice (ponte)
e que liga todo homem diretamente com a realidade para além de seus sentidos;
em outras palavras, Ele fez uma descida com a finalidade de elevá-lo. Ele não
veio com intuito de fazer milagres, uma vez que pela fé os corações de boa
vontade deviam aceitar Sua mensagem sem o auxílio de sinais... mas, algo Lhe é
peculiar, Ele passa no meio dos homens e não lhes é indiferente.
Na escola do Verbo duas palavras
são necessárias para resumir todo o programa de vida do Mestre: “Amor
e Compaixão”.
Foi o mesmo Amor que se tornou uma
criança, tão indefesa e fragilizada, na noite de Natal, o Amor quis ser
verdadeiramente homem com os homens; foi a Compaixão que tomou o lugar da dor,
experimentada, sentida na carne de todos quanto sofriam de algum mal em Seu
tempo e continua se compadecendo através de Seu corpo que é a Igreja; foi a
Compaixão que acolheu os pecadores, curou as feridas, deu voz aos mudos, fez os
surdos ouvir, os coxos andar, ressuscitou os mortos, sarou os doentes, saciou o
corpo e a alma dos que tinham fome e sede. Foi ainda o Amor e a Compaixão que
nos últimos momentos de Sua vida na terra deixou-nos a Si mesmo como sustento da
Caridade, na caminhada, ao dar-nos o Seu Corpo e Sangue no Sacramento da Eucaristia,
até o dia de Sua segunda vinda na glória.
A liberdade reconstituída no
homem da qual tratamos acima e que é o foco por excelência das ações de Jesus,
ao apresentar-nos o Reino de Seu Pai, não é senão aquela que o põe em perfeita
harmonia consigo mesmo, antes de qualquer outra coisa, e com tudo à sua volta,
ou seja, a criação inteira. Nisso consiste a verdadeira vida e razão de viver
no mundo, tanto como partícipe em sua construção bem como sendo parte
integrante do mesmo.
Os exemplos deixados pelo
Divino Mestre não tem outra função que a de impetrar no coração do homem os
mesmos sentimentos, como um despertar de tudo o que existe de bom dentro de
cada ser humano, e, que, pelo sufocar e exemplo das más experiências se
encontram adormecidos, pois pela Sua humanidade o mesmo poderá percorrer o
caminho seguro que aos poucos irá transformando as atitudes insubordinadas e
escravas por atitudes obedientes à voz interior e livre.
“O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres,
para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos
cegos a restauração da vista, para pôr em ‘liberdade os cativos’, para publicar
o ano da graça do Senhor” Lc 4, 18-19.
By
Maurus
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