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"Ut in omnibus glorificetur
Deus"
Para compreendermos os
mistérios divinos temos sempre que, a partir de um esforço pessoal e interior
(Graça), tentar enxergar para além dos acontecimentos à nossa volta, e que por
certo carregam traços do Criador de todas as coisas.
Como já disse Santo Agostinho e
Santo Tomás de Aquino retomou em seus estudos, lemos: “A Graça supõe a natureza”.
Esta mesma sentença implica de nossa parte uma abertura ainda maior em relação
ao desvelar divino que não exclui jamais a corelação entre Deus e Sua criatura,
e que de forma toda misteriosa se deixa ser compreendido no chão, no que há de mais profundo de toda a realidade humana.
A questão do ‘louvor’ está aqui
atrelada ao elogio que podemos tecer sobre alguém ao se tratar de uma ação que
nos cause admiração ou até prazer. É algo que nos toca e nos convida de dentro
– por ser o que há de mais verdadeiro em nós – nos impele pra fora, através da
palavra, ao reconhecer numa ação um bem esperado, ou até mesmo que não pudéssemos
esperar e que repentinamente tivesse surgido, atraindo toda a nossa atenção, sem
deixar de excluir nossas relações humanas quotidianas e ir para além do que
nossas experiências possam nos dizer. De certo, essa também é um dado que nos
revela pistas para a compreensão de algo entrelaçado ao divino...
Imaginemos, portanto, alguém
que esteja à frente de seu trabalho, em seu setor específico, onde as demandas
lhe sobrevêm constantemente por parte de seus subordinados, e, que, por
realizá-las muito bem, este mesmo receba o elogio que lhe é devido por sua
capacidade em tudo que faz. Com toda certeza não é difícil de fantasiar a cena,
de como o mesmo, já exaltado como bom no que faz, trabalhará ainda mais por
atender de forma bem mais acentuada a todos os pedidos que a ele chegam com o
intuito de realizá-los cada vez melhor. É algo estimulador, convidativo ao mesmo
tempo, que o chefe, ou vice-versa, continue perseverante em atenta disposição
ao que possa dar do que existe de melhor em si mesmo e poder dessa maneira disseminar
o bem-estar entre todos os que colaboram numa mesma empresa, ou tipo de governo;
e o bem-estar está sempre voltado para a imagem que se pode passar em vista de
seus clientes ou súditos.
Tomando esse exemplo concreto
podemos renomeá-lo sob um outro ponto de vista ou realidade, e que aponta para
as coisas do alto ao transcender o homem em suas necessidades espirituais. O
que está à frente do trabalho, o chefe, é Deus; Ele faz bem todas as coisas. O
elogio é o Louvor divino que não cessa de ser entoado por suas criaturas, cada um
em sua ordem, representadas acima pelos subordinados, clientes ou súditos.
Na verdade Deus está muito
acima de toda realidade palpável, mas não podemos negar Sua existência no
interior ou coração de cada homem que O busca de verdade; e é justamente para
além de tudo que podemos ver ou tocar que Ele subsite no profundo de cada ser,
o que exige de nossa parte um querer para além do que é empírico sem excluir é
claro as pistas que ao longo do caminho Ele vai nos dando com o intuito de
podermos descobri-Lo.
Poderíamos, ainda comparando ao
exemplo acima, dizer que o Louvor (elogio) devido a Deus de alguma forma cause
o mesmo efeito estimulativo em vista de um bem-estar ainda maior (que é a
salvação) de seu povo, ao olharmos de forma humana para nós mesmos, para aquilo
que somos em nossas relações. Sabemos de fato que nossos louvores não conseguem
alcançar a medida exata do que seja Deus em Sua plenitude, de forma que, os
mesmos sejam insuficientes diante de Sua grandeza e que em nada O rebaixe ou
acrescente, uma vez que Ele não necessita dos mesmos. Mas, como para cada
atitude no homem nada Lhe passe despercebido, Deus não deixa de observar uma
outra realidade atrelada aos nossos louvores que é o desejo profundo de que O
mesmo continue a sustentar e governar o mundo de forma harmoniosa; e tudo o que
Ele fez até o presente momento sirva para o bem e a salvação dos homens, bem
como de todas as criaturas.
O louvor é uma ação singular e
consciente de que tudo o que contemplamos no universo e recebemos dele nos é
dado da parte de Deus, criador de tudo o que existe debaixo e acima de nossos
olhos. É um reconhecimento atrelado à exultação da alma – e por isso é capaz de
detectar o mínimo movimento da graça – que se regozija por fazer parte do mesmo.
Existe uma estreita relação do
homem com tudo criado no mundo... com as águas, a luz, a terra, os animais,
toda vegetação, a noite, o dia, a lua, o sol, as estrelas, o ar, o fogo, etc.
Ao erguermos a Deus os nossos elogios (louvores) pedimos de alguma maneira que
Ele continue segurando com Suas mãos todo o Orbe, e que de fato possamos criar
laços afetivos com toda a criação.
“Mas
ele lhes disse: Meu Pai continua trabalhando até agora, e eu também trabalho” Jo 5,17
By Maurus
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