"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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domingo, 5 de junho de 2011

Comentário dos símbolos no Brasão


 Brasão Mauro de Almeida



Significado dos símbolos


A Cruz – É um dos símbolos mais antigos da fé cristã. Os primeiros cristãos encontraram nela o sinal visível que os identificavam como seguidores e participantes[1] no mistério de Cristo pelo batismo, fazendo assim lembrar-se do elo de pertença que aí se forma pela adesão ao reino de seu Pai. 

Na mesma, encontramos ao pé a cor vermelha, para lembrar com que entrega e amor à vontade de Deus o próprio Cristo derramou o seu sangue, não se esquivando do desafio que lhe sobreveio, pela redenção dos homens.[2]

As três estrelas – Nos revelam o mistério trinitário e com que forma o mesmo está presente na história de todo o homem, desde sua origem.[3] Nota-se que, a que se encontra ao meio, por conseguinte, a maior dentre as duas outras, está ligada à Cruz para nos indicar a semelhança que se deu por meio de sua encarnação com a natureza humana,[4] embora tendo conservado sua divindade;[5]  é sempre o mistério divino que se mistura à vida do homem em seu interior, com o intuito de restaurá-la. Para esse fim, faz-se mister a tomada de consciência desta realidade, que traz em si mesma o apelo percebido no anseio de cada pessoa em particular, como um chamado[6] insistente de fazer a experiência de Deus ao buscá-Lo dentro de si.[7]

O lado negro com a flor – O negro aqui representa as nossas trevas, nossas misérias, nossos males, o que existe de mais sombrio em nossas ações insubordinadas e que vez ou outra se revelam em alguma situação, ao longo de nossa caminhada terrestre. A flor representada em meio ao espaço negro é um Lótus. Bem conhecida na cultura oriental é encontrada como um símbolo ao lado de grandes deuses e mestres espirituais iluminados; ela nasce na lama e só se abre quando atinge a superfície, onde só então se mostra em sua beleza com suas luminosas e imaculadas pétalas auto-limpantes, isto é, tem a propriedade de repelir microorganismos e poeiras. Ela representa a pureza original, em outras palavras simboliza aqui o próprio Deus que quer ser encontrado com toda a realidade que existe dentro de nós mesmos.[8]

A árvore seca – Este símbolo é a representação a mais próxima no que se refere ao tempo vivido pelos (as) anciãos (ãs). É possível notar que na imagem apresentada, ainda que em pleno deserto, se pode ver em seu cimo uma folha verde, sinal da vitalidade espiritual que subsiste à fraqueza física. A esta árvore se agrupa a memória do trajeto percorrido por tantos homens e mulheres, que, buscando a solidão do deserto, encontraram aí a forma de estar em contato com a sua verdade,[9] a mais pura. Por meio deste contato, puderam fazer a verdadeira experiência de Deus ao se aceitarem em sua condição débil.[10]

Relacionado a este meio de isolamento voluntário, está a passagem do homem pelo abismo de suas próprias trevas, ou se quiser, de seus próprios vícios, como também ainda no confrontar-se com as situações de impotência frente às perdas, a doença, o medo ou qualquer que seja o momento que o ponha sob o estado ou sentimento de abandono.[11]

O cajado – É compreendido como o instrumento em que se apóia a fragilidade dos (as) anciãos (ãs) e, consequentemente, de qualquer ser humano cansado das lutas empreendidas.  É o sinal do consolo nas penas, um chamado à razão para saber esperar quando não mais parecemos suportar o peso de nossa jornada.[12]

O sol – Na cultura cristã o sol é sempre figura de Cristo,[13] sobretudo, no que se refere a sua divindade. É justamente sob esta luz[14] que ilumina e dá vida que são vividos os momentos de conflitos internos, como, as lutas diárias, com o olhar que se volta para a misericórdia de Deus e que contempla a si mesmo antes de qualquer outra criatura.[15] O sol é por assim dizer, a voz interna que nos indica a direção do verdadeiro caminho, que abre os nossos olhos para a verdadeira imagem que Deus faz de nós,[16] sem negar aquilo que compõe nossa essência, ou seja, o que de fato somos e para o qual fomos feitos, antes mesmo de virmos ao mundo.

O sol também é entendido como a fonte da sabedoria espiritual,[17] e que, ao longo do caminho, se vai adquirindo pelo experimento, com aquela atenção devida para o que o mesmo, por meio de seu clarão,[18] está a nos apontar dentro de nós mesmos, nas condições onde quer que nos encontremos, em outras palavras, com a experiência profunda que se faz como pessoa humana.[19] 



Resumo:

In Debilitate Virtus[20] (na fraqueza, a força) – Este lema visa ressaltar o paradoxo que é constatado na existência de cada homem – realidade muitas vezes esquecida – e que envolve a verdade sobre si mesmo por meio da tomada de consciência de suas fraquezas, da potencialidade que a partir de então se gera seguida do confronto, contida na vida de toda pessoa em sua particularidade.

Para a melhor compreensão deste assunto, podemos buscar razões explicativas que se encontram inseridas no mistério da natureza; é justamente por fazermos parte da mesma natureza criada, que podemos nos enxergar dentro dela e vice-versa.

Tomemos como primeiro exemplo, a semente.[21] Ao olharmos para uma semente sabemos que ela é em potência a árvore contida em sua espécie característica, mas somos cientes de que a mesma tem que apodrecer[22] para ser manifestada a sua força. Ela é constituída como tal, e sem esse processo, aparentemente de morte, não tem como se mostrar frondosa.

Sob teor diferente, mas paralelo a esse âmbito do reino vegetal, podemos considerar um exemplo do reino mineral ao citar o diamante; ele não é nada mais que um composto de carbono em seu estado fosco, disforme e bruto – sem formosura alguma – mas, que, polida, torna-se um elemento de beleza ímpar por seu brilho extraordinário. Semelhante a isso podemos constatar no ouro a mesma realidade, quando o mesmo, por sua vez, é descoberto no solo ou nas rochas, ao se apresentar misturado a impurezas que aí se encontram.[23]

Em relação ao homem, das transformações possíveis de suas ações, há um dado todo particular de se entender o mistério que envolve a força, como por assim dizer, toda subordinada à fraqueza, e que se dá pela tomada de consciência da mesma.

Para um atleta, é imprescindível ao mesmo estar consciente de suas debilidades para só assim poder capacitá-las ao transformá-las em força no adestramento de suas impossibilidades em vista da sua própria superação, etc.[24]

Estes exemplos são aqui apresentados na esfera física de nossa realidade extra/quotidiana é claro, mas o que aqui queremos propor é a maneira pela qual podemos alcançar a força no confronto diário que procura dialogar com o que mais nos incomoda, sobretudo com as nossas fraquezas morais e espirituais, que passam de certo em primeiro lugar na tomada de consciência de nossa verdade a mais pura.[25] É por meio desta via que poderemos encontrar o ponto de partida para a verdadeira transformação que tem o seu princípio no coração (ou consciência) de cada homem.[26] 


*Criado na Solenidade da Ascensão do Senhor de 2011

Maurus                  


[1] Cf. Mc 8, 34; 1Cor 1, 23.
[2] Cf. Col 1, 19-20; Ap 5, 1-14.
[3] Cf. Gn 1, 26a.
[4] Cf. Fl 2, 7-8.
[5] Cf. Fl 2, 6.
[6] Cf. Lv 11, 44; 19, 2; 20, 7; Mt 5, 48.
[7] “Eis que habitavas dentro de mim e eu Te procurava do lado de fora” – Santo Agostinho, Confissões 10, 8-15.
[8] Cf. Lc 17, 20-21.
[9] Cf. Eclo 6, 2-3; Ez 17, 21-23.
[10] Cf. Ez 17, 24.
[11] Cf. Sl 70, 9.
[12] Cf. Sl 70, 1; 118, 116.
[13] Cf. Lc 1, 78.
[14] Cf. Lc 2, 32.
[15] Cf. Tt 3, 5.
[16] Cf. Sb 7, 24.
[17] Cf. Sb 7, 24-26.
[18] Cf. Ez 43, 2.
[19] Cf. Jó 12, 12.
[20] Cf. 1Cor 15, 43; 2Cor 12, 9.
[21] Cf. Mc 4, 26.
[22] Cf. Jo 12, 24.
[23] Cf. Mt 13, 44.
[24] Cf. 1Cor 9, 25; 2Tm 2, 5.
[25] Cf. Jo 8, 32.
[26] Cf. Sl 94, 8; Ef 1, 18; 1Pdr 3, 4.

Um comentário:

  1. Caro amigo Mauro amei esse site!!! na realidade vc é demais. li tudo e amei o todo!!!

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