"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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domingo, 25 de outubro de 2015

Santa Hildegarda de Bingen: Médica dos Corpos e das Almas





Dotada de um carisma excepcional, a envergadura de sua obra vai desde a descrição de plantas e minerais, inclui a medicina, e atinge a mais elevada teologia e contemplação mística. Sua vida foi a composição de uma verdadeira "sinfonia divina".

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Naqueles dias primevos da Criação, o Senhor manifestava generosamente a sua onipotência e se comprazia em tirar do nada as incontáveis maravilhas que compõem o Universo. Quando a luminosidade do sol já marcava o decurso do dia e o colorido das plantas adornava a singeleza da terra, Ele exerceu sobre este elemento seu poder criador e ordenou: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra" (Gn 1, 26).

Assim, era na elevada condição de realeza que a obra-prima saída das mãos de Deus despertava para o conhecimento das realidades exteriores. Cada um dos seres vivos, e até mesmo os elementos, estavam a seu serviço, dispondo instintivamente o requinte de suas qualidades ao beneplácito do homem racional. Nisto estava a glória do Pai: em que, utilizando- se daquela multidão de criaturas, Adão fosse feliz e restituísse ao seu Criador o bem, a verdade e a beleza, reconhecendo-as como postas por Ele na admirável ordem do Universo.

O pecado rompe a harmonia

Mas... que triste estrago veio fazer o pecado original no estado de perfeição do primitivo casal! Expulsos do Paraíso, voltaram para a terra de onde foram tirados e tiveram de comer o pão com o suor de seu rosto, perdendo aquele domínio absoluto sobre as criaturas do qual gozavam no Éden. Contudo, em sua insondável misericórdia, Deus não destituiu o gênero humano da supremacia e precedência que lhe havia conferido. Quis que nele permanecesse a capacidade de utilizar-se de todos os seres e descobrir as valiosas propriedades encerradas em cada um dos elementos a seu serviço.

Até hoje, os filhos de Adão não esgotaram as possibilidades das criaturas que o cercam, e quão longe estão de fazê-lo! Chegam-nos todos os dias notícias surpreendentes acerca das descobertas feitas ao redor do mundo nas quais, por vezes, de causas singelas tiram-se efeitos assombrosos. O lado triste deste fato é que em nossa época o homem endureceu seu coração na busca desenfreada da ciência, omitindo culposamente para si mesmo e para os demais que, se algo há que possa estar na raiz dessas descobertas, são os dons do próprio Deus.

Não é nesta perspectiva que a Igreja forma seus filhos, e nem assim pensaram os santos. Quem se aproxima, por exemplo, da extraordinária figura que foi Santa Hildegarda de Bingen, muito em breve dá graças ao Pai "porque escondeu estas coisas aos sábios e prudentes, e as revelou aos pequeninos" (Lc 10, 21).

Nasce uma menina predestinada

Num agradável dia do verão de 1098 nascia no castelo de Böckekheim, na região do Reno, o décimo filho do casal Hildebert e Matilde de Bermersheim. Era uma encantadora menina, batizada com o nome de Hildegarda. Apesar da frágil saúde, dava ela - desde os primeiros anos de existência - mostras de aguda inteligência e inclinação religiosa.
A Providência quis ainda muito cedo atrair para Si esta angélica criança, que já aos três anos de idade era favorecida com luzes e revelações celestes. Pensando que todos recebiam igual sorte de favores, comentava entusiasmada a beleza do que via, causando estupor e maravilhamento nos que a ouviam.

Certo dia, caminhando com sua aia pelas redondezas do castelo, exclamou radiante: "Veja aquele bezerrinho, como é bonito! Todo branco, tem manchas apenas na cabeça e nas patas. Ah! tem uma também no lombo!" A criada, olhando para os lados e nada vendo, perguntou-lhe onde estava o bezerro. Sem compreender como ela não via o animalzinho, a menina apontou uma grande vaca e disse incisiva: "Está ali! Está ali!" Perplexa, a mulher pensou estar ouvindo mais uma fantasia infantil e, em tom de gracejo, contou o sucedido à mãe de Hildegarda. Entretanto, algum tempo depois nasceu um bezerro e ninguém mais riu: possuía exatamente o aspecto predito pela menina!

domingo, 21 de junho de 2015

Livro: Inclina o Ouvido do Coração



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A Capa

FILHO PRÓDIGO A imagem por si mesma já nos diz tudo, segundo o tema apresentado no livro. Aprouve-nos, desta, enfatizar o abraço do pai no acolhimento de seu filho, que retornara de uma vida pautada pela experiência do sofrimento e do abandono. 

Desta mesma, observamos a estreita proximidade do Ouvido do filho que repousa sobre o Coração de 'seu pai', reflexo daquele inclinar que vem do mais profundo do interior de seu coração, atento – pela reconciliação – a tudo que a voz do mesmo lhe ordenasse cumprir. 

A experiência vivida pelo filho que partira, culminara, por sua vez, em sua passagem ao deserto, momento pelo qual pôde confrontar-se consigo mesmo, pelo reconhecimento e aceitação sincera de suas faltas até chegar ao arrependimento que o reconciliaria com 'O Bem', antes desprezado.


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Introdução

Diante de uma realidade marcada pelo individualismo, como se apresenta os nossos dias, urge o sair de nosso comodismo que nos aprisiona na esfera de nossas ideias, as mais apegadas, e confundidas por vezes como verdade absoluta. 

Passaram-se mais de 1500 anos de história e as palavras do grande patriarca São Bento, que viveu em um período parecido com o nosso – apesar das limitações contextuais e culturais da época – se tornam até os nossos dias como sendo válidas e atuais em sua regra, ecoando como um forte meio de orientação e exemplo, numa abertura que se dá para os acontecimentos hodiernos, para tudo disposto à nossa volta, como de sua mensagem característica, que de certa forma nos exercita para aquele atender do coração e seu movimento. 

O grande motivo a que esta se debruça, é para o confronto com a realidade atual, no intuito de se pôr paralela à compreensão da vontade de Deus, que não é senão o querer da plena realização do homem, de seu chamado específico, sob os seus vários aspectos e aspirações, em vista da construção de uma sociedade baseada na verdade, a qual nos inspira e garante Sua Palavra. Para este fim, faz-se mister a disposição para a “Escuta”, como encontramos na orientação dada por São Bento, aos que militam sob sua paternidade espiritual, já no início de sua regra.

Este apelo para a “Escuta” permeia toda a instrução de São Bento, percebida na regra do começo ao fim, e subentendida por vezes pela “obediência”, como forma de fazer inculcar na mente e no coração de seus discípulos, a importância que a mesma se deve dar, como primeiro passo para o galgar do entendimento da vontade divina que se dá no chão de nossa história, quer pessoal ou comunitária, passando pelas experiências externas como preparação do terreno interior, que é o coração de cada homem. 

domingo, 12 de abril de 2015

As duas Grandes Misericórdias divinas




[Do tratado de São Bernardo, abade, sobre os graus da humildade e da soberba (N. 12: EC 3, 25-26)]



Se compreendes que Cristo tem duas naturezas em uma só pessoa, uma pela qual sempre existiu e outra na qual começou a existir, e que segundo seu ser eterno ele conhece todas as coisas desde sempre, mas segundo seu ser temporal conheceu muitas delas de maneira temporal, por que hesitas em admitir que, assim como ele começou a existir encarnado no tempo, começou também a conhecer as misérias da carne, por aquele tipo de conhecimento que a fraqueza da carne proporciona? Nossos primeiros pais eram mais sábios e felizes ignorando este tipo de ciência, que só puderam adquirir por um gesto de lamentável loucura. Mas Deus, seu criador, buscando o que havia perecido, compadeceu-se e proseguiu sua obra, descendo cheio de misericórdia até os que haviam caído miseravelmente.

Quis experimentar em si mesmo aquilo que mereceram sofrer por terem agido contra Ele, contudo, não pela mesma curiosidade, mas por uma admirável caridade. E não para permanecer infeliz entre os infelizes, mas para se fazer misericordioso e libertar os miseráveis. Fez-se misericordioso, não daquela misericórdia que já possuía em sua eterna felicidade, mas da que obteve através da infelicidade, em nossa condição humana. Assim, a obra de amor que iniciara com a primeira forma de misericórdia, completou-a com a segunda. Não que aquela não bastasse para realizá-la, mas porque sem esta ela não seria suficiente para nós. Ambas são necessárias, porém a segunda nos foi mais conveniente.

Ó inefável lógica do amor! Como imaginar essa admirável misericórdia que não se forma de uma miséria anterior? Como reconhecer essa compaixão para nós desconhecida que não foi precedida pelo sofrimento, pois que é eterna em Deus como sua impassibilidade? Entretanto, se essa misericórdia divina que ignora a miséria não estivesse na origem, a outra, que tem por mãe a miséria, não teria acontecido. Se não tivesse acontecido, não nos teria atraído; se não nos tivesse atraído, não nos teria livrado. E de onde nos terá livrado, senão do lago de miséria e do brejo lodoso (Sl 39, 3).  

Deus não abandonou sua primeira misericórdia, mas acrescentou-lhe a segunda. Ele não mudou e sim multiplicou, como está escrito: Salvas os homens e os animais, Senhor, como multiplicaste, ó Deus, a tua misericórdia! (Sl 35, 7b-8 Vg)


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Surgimento dos Padres do Deserto - Resumo


Montagem criada Bloggif 

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Paulo de Tebas é geralmente creditado como tendo sido o primeiro monge eremita a ir para o deserto, mas foi Santo Antão que efetivamente lançou o movimento que se tornaria conhecido de todos como os Padres do Deserto. Em algum momento por volta do ano de 270 d.C., Antão ou Antônio ouviu um sermão de domingo afirmando que a perfeição poderia ser alcançada vendendo-se todas as posses, doando o resultado disto aos pobres e seguindo Cristo (tratando de Mateus 19,21 parte dos conselhos evangélicos). Ele aceitou a mensagem e tomou ainda o passo adicional de se mudar para o deserto para buscar a mais completa solidão.

Antão viveu num tempo de transição para o cristianismo - as perseguições de Diocleciano em 303 d.C. foram as últimas grandes perseguições formais aos cristãos no Império Romano. Apenas dez anos depois, ele foi legalizado no Egito pelo sucessor de Diocleciano, Constantino I. Aqueles que tinham partido para o deserto formavam uma sociedade cristã alternativa ao martírio, que era na época visto por muitos cristãos como a forma mais alta de sacrifício. Nesta mesma época, o monasticismo no deserto apareceu quase simultaneamente em diversas áreas, incluindo o Egito e a Síria.

Com o passar do tempo, o modelo de Antão e outros eremitas atraiu muitos seguidores, que viviam a sós no deserto ou em pequenos grupos. Eles escolheram a vida de extremo ascetismo, renunciando a todos os prazeres dos sentidos, ricas comidas, banhos, descanso e todos os demais confortos. Milhares se juntaram a eles no deserto, a maioria homens, mas também um punhado de mulheres. As pessoas começaram a ir para o deserto em busca de conselhos e recomendações dos primeiros Padres do Deserto. Quando Antão morreu, havia tantos homens e mulheres vivendo no deserto que ele foi descrito como uma "cidade" pelo biógrafo de Antão, Atanásio de Alexandria.

Três principais tipos de monasticismo se desenvolveram no Egito ao redor dos Padres do Deserto. Um foi a vida austera do eremita, como praticado pelo próprio Antão e seus seguidores no Baixo Egito. Outro foi a vida cenobítica, comunidades de monges e freiras no Alto Egito formadas por São Pacômio. O terceiro foi uma vida semi-eremitíca vista principalmente na Nítria e em Scete, a oeste do Nilo, iniciada por Santo Amum. Estes últimos eram pequenos grupos (de dois a seis) de monges e freiras com um ancião em comum - os grupos separados se reuniam em aglomerações maiores para a celebração dos sábados e domingos. Este terceiro grupo monástico foi responsável pela maior parte dos ditos que foram compilados na obra "Ditos dos Pais do Deserto". 


Desenvolvimento das Comunidades Monásticas



As pequenas comunidades que formaram em torno dos Padres do Deserto foram o início do monasticismo cristão. Inicialmente, Antão e outros viveram como eremitas, formando ocasionalmente grupos de dois ou três. Pequenas comunidades informais começaram a se desenvolver até que o monge Pacômio, percebendo a necessidade de uma estrutura mais formal, estabeleceu um mosteiro com regras e uma organização. Seu regulamento incluía disciplina, obediência, trabalhos manuais, silêncio, jejuns e longos períodos de oração - alguns historiadores veem nestas regras como tendo sido inspiradas nas experiências de Pacômio como soldado.

O primeiro mosteiro totalmente organizado sob Pacômio incluía homens e mulheres vivendo em quartos separados, até três pessoas em cada. Eles se apoiavam tecendo e fazendo cestos, além de outras tarefas. Cada novo monge ou freira tinha um período probatório de três anos, que terminava com a aceitação completa no grupo. Todas as posses eram mantidas comunitariamente, as refeições eram feitas em conjunto, em silêncio. Duas vezes por semana jejuavam e se vestiam com roupas simples de camponeses, com um capuz. Diversas vezes por dia se reuniam para rezar e para as leituras, e se esperava que cada um dedicasse períodos de tempo sozinhos, em meditação sobre as escrituras. Havia também programas específicos para os que chegassem ao mosteiro sem saber ler.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Experiência como via de acesso à Hokmah - Sabedoria!


Por Ir. Plácida Maria Ramos Lima, OSB*



Falar sobre a Experiência e a Hokmah é deter-se numa reflexão aberta para o mundo antigo, uma vez que buscar a sabedoria é algo generalizado no antigo Oriente, tanto nos escritos sapienciais bíblicos assim como também nos extra-bíblicos (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915).

Quando se fala da Experiência e da Hokmah, supõe-se uma Sabedoria prática, arraigada de uma moral e de uma ética, que de certa forma exige uma reflexão sobre a vida – do modo pelo qual o ser humano pode adquirir a prudência e a habilidade para ser feliz (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915). Ceresko afirma que a Sabedoria é extraída da vida diária (2004, p. 7); igualmente pode-se dizer que a Sabedoria, “na sua origem, não vem de um ensinamento de fora, mas nasce de dentro”. “Vem da prática e da luta do povo”. “Nasce da própria vida do grupo”. “Cresce lentamente a partir da Experiência” (CRB, Tua palavra é vida. 1994, p. 19). Há uma ligação entre ambas. A Experiência sempre inaugura algo novo no cotidiano pessoal, e aponta para o crescimento humano sapiencial. Pode acontecer também que a Experiência se confunda com a banalidade quando se relativizam as coisas, os acontecimentos, distanciando-se, portanto, da reflexão que induz o pensamento humano a uma moral, à Sabedoria.

A Sabedoria nasce com os provérbios. O chão do povo é a Sabedoria popular.  (Tua Palavra é vida. 1994, p.17). Atrelada à Experiência está também a Hokmah nas diferentes culturas. O autor Ceresko nomeia a Índia como um lugar original e complexo, um foco de centros de ensino da Sabedoria cumulada há milhões de anos. O líder Gandhi centrava sua vida na Sabedoria antiga. Ensinava aos seus seguidores a buscar a própria Experiência como fonte de Sabedoria (Ceresko p. 7). Na Grécia, no século VI a.C., a Sabedoria tornara-se filosofia, ciência embrionária, de onde parte as técnicas que se desenvolveram ao longo do tempo, ao ponto de se tornar o elemento importante da civilização, o “humanismo da antiguidade”. (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977 p. 917).

Em Jesus Cristo, o sábio por excelência, está contido a Experiência e a Hokmah. Em Lc 10, na parábola do “Bom samaritano”, estão presentes duas realidades: a Experiência e Hokmah. Alguém pergunta a Jesus quem é o seu próximo. Parafraseando Ceresko, Jesus não vai buscar a lei de Moisés e os profetas para dar uma resposta a quem pergunta, mas desperta os ouvintes para uma aventura: a da caridade, de não estar preso às leis, mas ao valor maior, a vida humana. Eis o caminho que a Sabedoria sempre percorreu desde os tempos mais remotos: ‘a aventura de mergulhar no mundo do outro, num mundo de certa forma espiritual’ (Ceresko, p. 8).

A espiritualidade sapiencial do povo de Israel nasce no viés do cotidiano. Não vai ser diferente a de outros povos, pelo contrário, o curso sapiencial traz em comum a sapiência do mundo antigo, desde o desenvolvimento da escrita há 3000 anos a.C., na Mesopotâmia e depois no Egito (Ceresko p. 8-12). É neste contexto que a Hokmah de Israel se desenvolve. Muitas questões abordadas nos escritos pagãos do Egito e Mesopotâmia versam sobre assunto similar – “o sofrimento dos inocentes e a justiça dos deuses” em paralelo com o justo Jó (Ceresko, p. 23).

Contudo, a base da Sabedoria de Israel é pura, assinalada pelo temor a Javé. Ela brota da Experiência, cujas raízes exprimem-se na Sabedoria humana, e esta, por sua vez, se conforma à Sabedoria de Deus. “Esta Sabedoria divina, presente em tudo desde a criação do mundo, começa a ser utilizada como critério para ajudar o povo a discernir os sinais de Deus na vida e na história” (CRB, Sabedoria e poesia do povo de Deus, 1993 p. 14). 

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