Por Ir.
Plácida Maria Ramos Lima, OSB*
Falar
sobre a Experiência e a Hokmah é deter-se numa reflexão aberta para o mundo
antigo, uma vez que buscar a sabedoria é algo generalizado no antigo Oriente, tanto
nos escritos sapienciais bíblicos assim como também nos extra-bíblicos
(Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915).
Quando se
fala da Experiência e da Hokmah, supõe-se uma Sabedoria prática, arraigada de
uma moral e de uma ética, que de certa forma exige uma reflexão sobre a vida –
do modo pelo qual o ser humano pode adquirir a prudência e a habilidade para
ser feliz (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915). Ceresko
afirma que a Sabedoria é extraída da vida diária (2004, p. 7); igualmente
pode-se dizer que a Sabedoria, “na sua origem, não vem de um ensinamento de
fora, mas nasce de dentro”. “Vem da prática e da luta do povo”. “Nasce da própria
vida do grupo”. “Cresce lentamente a partir da Experiência” (CRB, Tua palavra é
vida. 1994, p. 19). Há uma ligação entre ambas. A Experiência sempre inaugura
algo novo no cotidiano pessoal, e aponta para o crescimento humano sapiencial. Pode
acontecer também que a Experiência se confunda com a banalidade quando se
relativizam as coisas, os acontecimentos, distanciando-se, portanto, da
reflexão que induz o pensamento humano a uma moral, à Sabedoria.
A Sabedoria
nasce com os provérbios. O chão do povo é a Sabedoria popular. (Tua Palavra é vida. 1994, p.17). Atrelada à
Experiência está também a Hokmah nas diferentes culturas. O autor Ceresko nomeia
a Índia como um lugar original e complexo, um foco de centros de ensino da Sabedoria
cumulada há milhões de anos. O líder Gandhi centrava sua vida na Sabedoria
antiga. Ensinava aos seus seguidores a buscar a própria Experiência como fonte
de Sabedoria (Ceresko p. 7). Na Grécia, no século VI a.C., a Sabedoria
tornara-se filosofia, ciência embrionária, de onde parte as técnicas que se
desenvolveram ao longo do tempo, ao ponto de se tornar o elemento importante da
civilização, o “humanismo da antiguidade”. (Vocabulários de Teologia Bíblica,
Trad. Simão Voigt, 1977 p. 917).
Em Jesus Cristo,
o sábio por excelência, está contido a Experiência e a Hokmah. Em Lc 10, na parábola
do “Bom samaritano”, estão presentes duas realidades: a Experiência e Hokmah.
Alguém pergunta a Jesus quem é o seu próximo. Parafraseando Ceresko, Jesus não
vai buscar a lei de Moisés e os profetas para dar uma resposta a quem pergunta,
mas desperta os ouvintes para uma aventura: a da caridade, de não estar preso
às leis, mas ao valor maior, a vida humana. Eis o caminho que a Sabedoria
sempre percorreu desde os tempos mais remotos: ‘a aventura de mergulhar no
mundo do outro, num mundo de certa forma espiritual’ (Ceresko, p. 8).
A
espiritualidade sapiencial do povo de Israel nasce no viés do cotidiano. Não
vai ser diferente a de outros povos, pelo contrário, o curso sapiencial traz em
comum a sapiência do mundo antigo, desde o desenvolvimento da escrita há 3000
anos a.C., na Mesopotâmia e depois no Egito (Ceresko p. 8-12). É neste contexto
que a Hokmah de Israel se desenvolve. Muitas questões abordadas nos escritos
pagãos do Egito e Mesopotâmia versam sobre assunto similar – “o sofrimento dos
inocentes e a justiça dos deuses” em paralelo com o justo Jó (Ceresko, p. 23).
Contudo,
a base da Sabedoria de Israel é pura, assinalada pelo temor a Javé. Ela brota
da Experiência, cujas raízes exprimem-se na Sabedoria humana, e esta, por sua
vez, se conforma à Sabedoria de Deus. “Esta Sabedoria divina, presente em tudo
desde a criação do mundo, começa a ser utilizada como critério para ajudar o
povo a discernir os sinais de Deus na vida e na história” (CRB, Sabedoria e
poesia do povo de Deus, 1993 p. 14).
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* Ir.
Plácida Maria Ramos Lima, OSB, é monja do MOSTEIRO DO SALVADOR – da Congregação
Beneditina do Brasil – situado no Subúrbio Ferroviário da Cidade de São Salvador,
Bahia, Brasil. A mesma é estudante de Teologia na Faculdade de São Bento da
Bahia.
O texto
acima exposto foi apresentado à disciplina curricular sobre os Livros
Sapienciais em sala de aula, tendo como orientador o Prof. Me. Marcos de Alcântara.
REFERENCIA:
CERESKO,
Anthony R. A Sabedoria no Antigo
Testamento: espiritualidade libertadora. São Paulo: Paulus, 2004.
CRB, Sabedoria e poesia do povo de Israel. São
Paulo: Loyola, V.4. 1994.
Vocabulário de Teologia Bíblica,Colaboradores: Fançois Amiot,
Jean-Louis d’Aragon et Aus. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.
Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulinas, 1973.
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