"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Experiência como via de acesso à Hokmah - Sabedoria!


Por Ir. Plácida Maria Ramos Lima, OSB*



Falar sobre a Experiência e a Hokmah é deter-se numa reflexão aberta para o mundo antigo, uma vez que buscar a sabedoria é algo generalizado no antigo Oriente, tanto nos escritos sapienciais bíblicos assim como também nos extra-bíblicos (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915).

Quando se fala da Experiência e da Hokmah, supõe-se uma Sabedoria prática, arraigada de uma moral e de uma ética, que de certa forma exige uma reflexão sobre a vida – do modo pelo qual o ser humano pode adquirir a prudência e a habilidade para ser feliz (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977, p. 915). Ceresko afirma que a Sabedoria é extraída da vida diária (2004, p. 7); igualmente pode-se dizer que a Sabedoria, “na sua origem, não vem de um ensinamento de fora, mas nasce de dentro”. “Vem da prática e da luta do povo”. “Nasce da própria vida do grupo”. “Cresce lentamente a partir da Experiência” (CRB, Tua palavra é vida. 1994, p. 19). Há uma ligação entre ambas. A Experiência sempre inaugura algo novo no cotidiano pessoal, e aponta para o crescimento humano sapiencial. Pode acontecer também que a Experiência se confunda com a banalidade quando se relativizam as coisas, os acontecimentos, distanciando-se, portanto, da reflexão que induz o pensamento humano a uma moral, à Sabedoria.

A Sabedoria nasce com os provérbios. O chão do povo é a Sabedoria popular.  (Tua Palavra é vida. 1994, p.17). Atrelada à Experiência está também a Hokmah nas diferentes culturas. O autor Ceresko nomeia a Índia como um lugar original e complexo, um foco de centros de ensino da Sabedoria cumulada há milhões de anos. O líder Gandhi centrava sua vida na Sabedoria antiga. Ensinava aos seus seguidores a buscar a própria Experiência como fonte de Sabedoria (Ceresko p. 7). Na Grécia, no século VI a.C., a Sabedoria tornara-se filosofia, ciência embrionária, de onde parte as técnicas que se desenvolveram ao longo do tempo, ao ponto de se tornar o elemento importante da civilização, o “humanismo da antiguidade”. (Vocabulários de Teologia Bíblica, Trad. Simão Voigt, 1977 p. 917).

Em Jesus Cristo, o sábio por excelência, está contido a Experiência e a Hokmah. Em Lc 10, na parábola do “Bom samaritano”, estão presentes duas realidades: a Experiência e Hokmah. Alguém pergunta a Jesus quem é o seu próximo. Parafraseando Ceresko, Jesus não vai buscar a lei de Moisés e os profetas para dar uma resposta a quem pergunta, mas desperta os ouvintes para uma aventura: a da caridade, de não estar preso às leis, mas ao valor maior, a vida humana. Eis o caminho que a Sabedoria sempre percorreu desde os tempos mais remotos: ‘a aventura de mergulhar no mundo do outro, num mundo de certa forma espiritual’ (Ceresko, p. 8).

A espiritualidade sapiencial do povo de Israel nasce no viés do cotidiano. Não vai ser diferente a de outros povos, pelo contrário, o curso sapiencial traz em comum a sapiência do mundo antigo, desde o desenvolvimento da escrita há 3000 anos a.C., na Mesopotâmia e depois no Egito (Ceresko p. 8-12). É neste contexto que a Hokmah de Israel se desenvolve. Muitas questões abordadas nos escritos pagãos do Egito e Mesopotâmia versam sobre assunto similar – “o sofrimento dos inocentes e a justiça dos deuses” em paralelo com o justo Jó (Ceresko, p. 23).

Contudo, a base da Sabedoria de Israel é pura, assinalada pelo temor a Javé. Ela brota da Experiência, cujas raízes exprimem-se na Sabedoria humana, e esta, por sua vez, se conforma à Sabedoria de Deus. “Esta Sabedoria divina, presente em tudo desde a criação do mundo, começa a ser utilizada como critério para ajudar o povo a discernir os sinais de Deus na vida e na história” (CRB, Sabedoria e poesia do povo de Deus, 1993 p. 14). 





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* Ir. Plácida Maria Ramos Lima, OSB, é monja do MOSTEIRO DO SALVADOR – da Congregação Beneditina do Brasil – situado no Subúrbio Ferroviário da Cidade de São Salvador, Bahia, Brasil. A mesma é estudante de Teologia na Faculdade de São Bento da Bahia.

O texto acima exposto foi apresentado à disciplina curricular sobre os Livros Sapienciais em sala de aula, tendo como orientador o Prof. Me. Marcos de Alcântara.



REFERENCIA:

CERESKO, Anthony R. A Sabedoria no Antigo Testamento: espiritualidade libertadora. São Paulo: Paulus, 2004.

CRB, Sabedoria e poesia do povo de Israel. São Paulo: Loyola, V.4. 1994.

Vocabulário de Teologia Bíblica,Colaboradores: Fançois Amiot, Jean-Louis d’Aragon et Aus. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.

Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulinas, 1973.





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