"Aquele
que perseverar até o fim será salvo"
Mt 24, 13
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1. O abade Antão, quando
residia no deserto, caiu em acédia e em grande obscuridade de pensamentos;
disse ele a Deus: “Senhor, quero ser salvo, mas meus pensamentos não me
permitem; que farei nesta minha aflição? Como serei salvo?”. Um pouco mais
tarde levantou-se e saiu da cela. Percebeu então que alguém parecido consigo
estava sentado e trabalhava, depois afastava-se da obra e rezava; sentando-se
novamente trançava uma corda e se erguia ainda para rezar. Era um anjo do
Senhor que se enviara a Antão para sua correção e salvaguarda. Escutou o anjo
lhe dizer: “Faze o mesmo e serás salvo!” A tais palavras foi tomado de grande
gozo e confiança. Agindo deste modo operava sua salvação. (Antão, 1).
2. Um irmão interrogou o abade
Agatão: “Tenho uma ordem a executar, mas num sítio onde terei de pelejar
bastante. Quero ir para obedecer, mas temo a guerra”. Respondeu-lhe o ancião:
“Em teu lugar Agatão cumpriria a ordem e ganharia a guerra”. (Agatão, 13)
3. O abade Amonas dizia:
“Passei quatorze anos na Cítia, e orava a Deus dia e noite para me dar a força
de vencer a cólera”. (Amonas, 3).
4. O abade Bessarião dizia:
“Fiquei de pé quarenta dias sem dormir e quarenta noites sobre espinhos”.
(Bessarião, 6).
5. Um irmão, que vivia como
anacoreta, estava turbado. Ele foi até a morada do abade Teodoro de Farméia e
lhe declarou sua inquietação. Disse-lhe o ancião: “Vai, conserva a alma na
humildade, sê submisso aos outros e vive com eles”. Ele partiu para a montanha
e foi viver com outros. Depois retornou ao ancião e lhe disse: “Não encontrei o
repouso vivendo entre os homens”. Disse-lhe o ancião: “Se não encontras repouso
nem na soledade nem na companhia dos irmãos, por que vieste a ser monge? Não
fora para suportar penas? Mas dize-me: há quanto tempo vestes o hábito?” – “Oito
anos”, respondeu ele. Replicou o ancião: “Crê em mim, eis que o visto há
sessenta anos e não houve um dia de repouso para mim, enquanto que tu o queres
após oito anos?” Ao escutar isso partiu reconfortado. (Teodoro de Farméia, 2).