"Santo assassino"
Estamos acostumados a ouvir histórias de santos que desde a infância tiveram uma adesão humilde e forte à fé recebida em seu santo Batismo. Santos que se tornaram notáveis pelo amor incondicional à Igreja e ao próximo. Santos que gozavam de tamanha fé que lhes permitia operarem grandes milagres. Isto fez com que alguns encarassem a santidade como algo extraordinário, impossível de ser alcançado. Eis a razão pela qual muitos se escandalizaram quando foi encerrada a fase de informação diocesana e aberto o processo de beatificação de Jacques Fesch, jovem francês, condenado à prisão e finalmente executado na guilhotina há 53 anos, por ter matado um policial e ferido um funcionário de uma casa de câmbio numa tentativa de roubo.
Nascido em família rica, filho de um poderoso banqueiro belga, ateu e adúltero, indiferente quanto à formação religiosa de seus filhos. Não possuía gosto pelos estudos. Foi enviado à Alemanha para combater pelo exército francês. Depois de ter prestado serviço militar, foi-lhe arranjado um emprego com alto salário em um banco, sendo demitido após três meses. Levava uma vida mundana. Com fama de playboy, era dado à bebedeiras e frequentemente se envolvia com prostitutas. Casou-se aos 21 anos numa cerimônia civil com Pierrette Polack, filha da vizinha, que estava esperando um filho seu. Seus pais, antissemitas, não aceitaram o fato de sua nora ser filha de pai judeu. Não obstante o nascimento da filha, o jovem Fesch continuou a se encontrar com outras mulheres. Desses encontros nasceu Gérard, filho bastardo que foi entregue aos cuidados de um orfanato. Logo após, o casal se divorciou.
Inquieto e deprimido, pretendendo fugir das responsabilidades da família que, muito jovem, havia formado, decidiu empreender uma navegação solitária em redor do mundo. Pediu a seus pais a ajuda financeira necessária para comprar um barco e realizar tal viagem. Eles, não compreendendo a delicada situação emocional de seu filho, tendo-o por desequilibrado e ilusionista, negaram todo o apoio. A fim de conseguir recursos para o seu plano, acertou com o famoso cambista Alexander Silberstein a troca de dois milhões de francos por barras de ouro. No entardecer do dia 25 de fevereiro de 1954, dirige-se à casa de câmbio. Lá, apontou um revólver e exigiu a entrega do dinheiro que estava guardado na registradora. O cambista reagiu, sendo atingido com duas coronhadas na cabeça. Enquanto fugia com a quantia roubada, por meio de uma rua movimentada, deparou-se com um policial, Jean Vergne, de 35 anos, viúvo e pai de uma filha pequena. O policial, que havia sido alertado por alguém que estava a passar, de que aquele jovem havia assaltado uma casa de câmbio, ordenou que ele parasse e se entregasse. Hesitante, o jovem atirou três vezes, o que custou a vida do policial. Revoltada, a multidão começou a perseguir o assassino, que continuava a atirar, ferindo uma moça no pescoço. Finalmente, ele se rendeu e foi preso.