"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A pureza de Coração






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É nas palavras de Jesus que podemos encontrar um melhor entendimento sobre a pureza de coração ao se dirigir ao povo em seu discurso no sermão da montanha.[1]

Em primeiro lugar, é importante ressaltar aqui o papel de Jesus ao considerar sua posição diante daqueles a quem se dirigia; Ele está no monte. Esta posição de Jesus sobre o monte, diante de uma multidão que o escutava, nos faz lembrar os antigos legisladores da lei, a saber, Moisés, conhecido como o grande legislador ou intérprete da lei divina, que reuniu o povo cativo em marcha para o lugar onde Deus mesmo havia indicado – a terra da promessa – embora não a tivesse conhecido.

Com toda a experiência vivida por aquele povo que O seguia – marcado pelo sofrimento e a dor – ao sublinharmos a consideração sob o contexto em que se econtrava, desfigurou-se ao longo dos séculos de história, notadamente pelo afastamento de Deus e as conseqüências desse desligamento que lhes são esperadas, a verdadeira imagem divina em seu coração já fatigado pela humilhação e o poder romano que o dominava. Desta real situação se confunde, quase como que imperceptível ante os olhos das massas, e se insurge – por assim dizer – como fato gritante, ainda que tênue, mas expressivo em seu real e profundo desejo de contemplação de Deus.

Assim nos apresenta Jesus seguido de seu discurso:

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus” (Mt 5, 8).

Ora, contemplar a face de alguém que reconhecemos haver uma estreita ligação, segundo os cuidados que recebemos ao longo do caminho é reconfortante e revigorador em nosso espírito, ou seja, da alegria da alma. Podemos citar o olhar da criança que a todo o momento busca e se alegra, ao reconhecer em seus pais o porto seguro de sua vida, que ao se criar por meio da presença reconhecida, a constatação de bem e prazer, o acolhem como o gozo de seu momento único.

Por certo, este mesmo prazer é a certeza que se estabelece para o desbravamento do mundo com a confiança devida em detrimento dos perigos que sua imaginação ou intuição aponta e que tem sua razão de ser no conhecimento superficial ou concreto do meio em que vive.

Um outro aspecto de compreensão do que vem a ser a ‘contemplação de Deus’ está ligado com a verdade, distanciada, apartada da hipocrisia, ou seja, está ligada àquela atitude capaz de detectar e aceitar aquilo que ‘é’ sem o prejuízo de nossas pré-concepções ou julgamentos, atrelados ao nosso pré-conceito sobre a real definição das coisas ou acontecimentos, etc.

Em outras palavras, ter o ‘coração puro’, “Capax Dei” (capaz de Deus), é estar sempre aberto em acolher aquilo o que de fato ‘é’ – ainda que envolto em seu problema característico – sem as nuanças da instabilidade de nossas vãs certezas, ou se preferir, de tudo aquilo que nos afasta de nossas experiências reais e concretas, somadas à verdadeira intenção de coração.

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus

Não podemos fugir à realidade de nosso pré-conceito (ou julgamento) sobre nós mesmos, sobre os outros e Deus, ao se tratar da real ‘visão do objeto que se almeja tocar’. Está aqui, a meu ver, mais uma vez, quase que como uma repetição, ao podermos identificar nessa atitude tão corriqueira em nosso dia-a-dia, como sendo o fundamento que nos impede da contemplação ‘real’ e ‘pura’ que se atrela ao apego desmedido da imaginação tão presente, encarnada e tentadora de nossos ‘achismos’.

Para os pais do deserto, a primeira batalha empreendida na vida espiritual começava sempre no terreno das imaginações, pelo fato de ser aí o espaço favorável da ação demoníaca que se esforça ininterruptamente[2] em nos confundir e distorcer a real imagem das coisas, de nós mesmos, dos outros e conseqüentemente de Deus.

No decorrer da caminhada monástica que tracei, ouvi uma vez um ancião monge e sábio dizer: “Quanto mais idealizamos Deus, mas Ele se afasta de nós tão grande é a Sua realidade”.

Na esfera de nossas relações com o próximo não lhe caberia aqui a mesma sentença, visto que o homem também é um mistério? No âmbito da natureza criada, constatamos a cada dia as surpreendentes conquistas e descobertas que parecem não estar finalizadas, visto que há muito mais a ser desvendado diante do grande mistério que é o mundo, mediante, é claro, uma busca sincera e benévola.

O fato é que, encontramos ao nosso redor a forma de exercitarmos na compreensão, ou então aceitação de nossos limites na apreensão do mundo onde nós mesmos estamos inseridos para só assim ascendermos ao conhecimento de Deus.

O primeiro lugar a ser reconhecido nessa busca é o próprio interior de cada coração com tudo o que existe aí, com toda a sua verdade, onde, como o ouro em meio aos vermes ou o diamante em sua forma bruta, ou ainda como uma linda flor que se desabrocha da lama ao revelar por meio desse fenômeno a presença misteriosa de Deus, que por vezes se encontra despercebido por conta de nossa negação.

Pois desta verdade temos a narrativa dos evangelistas Lucas e Mateus seguida de resposta do próprio Jesus: “Os fariseus perguntaram um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes então: O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Mt 7, 20-21).

O Reino de Deus é o ápice por assim dizer do que vem a ser de fato o estado de Sua presença no homem; algo conquistado por meio de uma experiência íntima, e como o termo já o revela, engloba toda a vida do homem em sua particularidade.







By Maurus


[1] Cf. Mt 5, 1-48.
[2] Cf.1 Pd 5, 8.


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