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Paulo de Tebas é geralmente
creditado como tendo sido o primeiro monge eremita a ir para o deserto, mas foi
Santo Antão que efetivamente lançou o movimento que se tornaria conhecido de todos
como os Padres do Deserto. Em algum momento por volta do ano de 270 d.C., Antão
ou Antônio ouviu um sermão de domingo afirmando que a perfeição poderia ser
alcançada vendendo-se todas as posses, doando o resultado disto aos pobres e
seguindo Cristo (tratando de Mateus 19,21 parte dos conselhos evangélicos). Ele
aceitou a mensagem e tomou ainda o passo adicional de se mudar para o deserto
para buscar a mais completa solidão.
Antão viveu num tempo de
transição para o cristianismo - as perseguições de Diocleciano em 303 d.C.
foram as últimas grandes perseguições formais aos cristãos no Império Romano.
Apenas dez anos depois, ele foi legalizado no Egito pelo sucessor de Diocleciano,
Constantino I. Aqueles que tinham partido para o deserto formavam uma sociedade
cristã alternativa ao martírio, que era na época visto por muitos cristãos como
a forma mais alta de sacrifício. Nesta mesma época, o monasticismo no deserto
apareceu quase simultaneamente em diversas áreas, incluindo o Egito e a Síria.
Com o passar do tempo, o modelo
de Antão e outros eremitas atraiu muitos seguidores, que viviam a sós no
deserto ou em pequenos grupos. Eles escolheram a vida de extremo ascetismo,
renunciando a todos os prazeres dos sentidos, ricas comidas, banhos, descanso e
todos os demais confortos. Milhares se juntaram a eles no deserto, a maioria
homens, mas também um punhado de mulheres. As pessoas começaram a ir para o
deserto em busca de conselhos e recomendações dos primeiros Padres do Deserto.
Quando Antão morreu, havia tantos homens e mulheres vivendo no deserto que ele
foi descrito como uma "cidade" pelo biógrafo de Antão, Atanásio de
Alexandria.
Três principais tipos de
monasticismo se desenvolveram no Egito ao redor dos Padres do Deserto. Um foi a
vida austera do eremita, como praticado pelo próprio Antão e seus seguidores no
Baixo Egito. Outro foi a vida cenobítica, comunidades de monges e freiras no
Alto Egito formadas por São Pacômio. O terceiro foi uma vida semi-eremitíca
vista principalmente na Nítria e em Scete, a oeste do Nilo, iniciada por Santo
Amum. Estes últimos eram pequenos grupos (de dois a seis) de monges e freiras
com um ancião em comum - os grupos separados se reuniam em aglomerações maiores
para a celebração dos sábados e domingos. Este terceiro grupo monástico foi
responsável pela maior parte dos ditos que foram compilados na obra "Ditos
dos Pais do Deserto".
Desenvolvimento
das Comunidades Monásticas
As pequenas comunidades que
formaram em torno dos Padres do Deserto foram o início do monasticismo cristão.
Inicialmente, Antão e outros viveram como eremitas, formando ocasionalmente
grupos de dois ou três. Pequenas comunidades informais começaram a se
desenvolver até que o monge Pacômio, percebendo a necessidade de uma estrutura
mais formal, estabeleceu um mosteiro com regras e uma organização. Seu
regulamento incluía disciplina, obediência, trabalhos manuais, silêncio, jejuns
e longos períodos de oração - alguns historiadores veem nestas regras como
tendo sido inspiradas nas experiências de Pacômio como soldado.
O primeiro mosteiro totalmente
organizado sob Pacômio incluía homens e mulheres vivendo em quartos separados,
até três pessoas em cada. Eles se apoiavam tecendo e fazendo cestos, além de
outras tarefas. Cada novo monge ou freira tinha um período probatório de três
anos, que terminava com a aceitação completa no grupo. Todas as posses eram
mantidas comunitariamente, as refeições eram feitas em conjunto, em silêncio.
Duas vezes por semana jejuavam e se vestiam com roupas simples de camponeses,
com um capuz. Diversas vezes por dia se reuniam para rezar e para as leituras,
e se esperava que cada um dedicasse períodos de tempo sozinhos, em meditação
sobre as escrituras. Havia também programas específicos para os que chegassem
ao mosteiro sem saber ler.