"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A "PAX" como convite e abertura à voz interna


PAX



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“O Senhor disse-lhe: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse momento passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto...”   1Rs 19,11-13a.


Estamos sempre a alimentar pelo desejo – e esse, advindo do mais profundo de nosso ser – para alguns, inconsciente, assinalado pela angústia na espera de algo que se faça presente e que por vezes não sabemos explicar; nisso constitui a busca incessante de noss’alma, desde o paraíso, e que por certo se torna a razão de nossa completude.

O salmista numa linguagem simples nos faz entender melhor esse anseio da alma quando disse: “Só em Deus repousa a minha alma, é dele que me vem o que eu espero” (Sl 61,6).

Para os que creem, qualquer que seja a orientação recebida, a espera é sempre pautada por meio de uma antecipação da visão, na qual se pode experimentar uma alegria sem explicação, ainda que sob véus aparentes, mas, com a certeza de que o momento certo virá. Essa experiência é típica dos que buscam de coração sincero pelas respostas à suas indagações internas e podemos constatar nos homens e nas mulheres, que, apoiando-se na fé, procuram avançar e chegar a bom termo nesta vida.


A experiência do profeta Elias no Horeb, mencionado na narrativa acima, é um exemplo do discernimento da passagem do Senhor sobre o monte, como resultado de seu desejo profundo de sentir Sua presença como força e consolo na caminhada que naquele momento particular estava enfrentando.
É importante ressaltar que o desejo de Elias estava atrelado ao cansaço psicológico e físico. Para aquele momento difícil, sob o contexto de perseguição que atentava contra sua vida, já sem muitas esperanças, abatido por conta da infidelidade de sua gente para com as leis divinas, se encontrou por ora perdido e sem saída, restando somente a morte. É quando o Senhor lhe aparece e apazigua o seu coração.

“...ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira”  

E Deus estava no ‘murmúrio da brisa’... Ora, encontrar a Deus ao som do quase não audível – ao invés de podermos encontrá-Lo nas tempestades e trovões, ou até no fogo como se é de esperar a um Ser tão poderoso – é dizer que Deus está para além de nossas inquietações tanto externas como as de nosso interior.

Sem dúvida alguma, o profeta foi preparado como que por meio de estágios, que envolvessem o confronto com a sua realidade atual para só assim poder acolher a presença do Senhor em sua totalidade. O vento impetuoso, o tremor de terra e o fogo, não foram senão figuras externas e a maneira mais próxima de se explicar de como o seu interior estava carregado com as realidades que o perturbavam, mas ‘o Senhor estava na brisa suave’, sinal do estado adequado para se acolher O mesmo que deveria passar por ali, ou melhor, no mais profundo de seu ser; pois, ‘é na quietação que o Senhor se revela’, mas, também, não exclui a possibilidade do confronto com nossas tempestades interiores.

Na experiência de Elias, podemos constatar que o Senhor já estava presente, mas, não lhe foi perceptível num primeiro momento. Seguramente, com o espírito abalado e confuso em relação ao medo pelo que lhe estava por vir com a perseguição, não lhe fora dado contemplar ou sentir a presença d’Ele.

Para percebê-Lo, Deus exige de nossa parte aquela disposição sadia que tudo faz se aquietar no sossego de noss’alma, para só depois, desarmados de nossos pensamentos, muitos dos quais apegados sobre a imagem errada que fazemos segundo o ponto de vista alheio e não com aquele que nos configura a Ele.

É justamente por meio dessa experiência contemplativa do profeta, que nos portais dos mosteiros beneditino/cisterciense encontramos a inscrição “PAX”, como um convite à todos os que aí habitam e chegam, de se lembrarem a cada instante, que, apaziguar os nossos corações é preciso, para podermos perceber o Senhor que quer passar e nos falar ao coração. Quanto a isso São Bento é muito rigoroso quanto a escolha do abade, uma vez que o mesmo deverá estar à frente de muitos no mosteiro como dispensador dos bens espirituais, quando escreveu em sua regra:

“Não seja turbulento nem inquieto...” (RB 64, 16).

Uma vez que São Bento desejou que os mosteiros fossem lugares propícios à escuta, não podia ser diferente quando ele mesmo definiu que os mesmos fossem vistos como uma 'escola do Serviço do Senhor'; ora, se são como escolas, existe um Mestre, se tem um Mestre há discípulos que escutam. A voz aí é puramente divina, perceptível no silêncio de nossas quietações, apesar do burburinho que é nossa realidade interna.


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Sobre a PAZ (apoftegma): 

Certo dia, um noviço resolveu renunciar ao mundo. Disse ao ancião: “Quero ser monge”. O ancião respondeu: “Não conseguirás”. E o outro: “Conseguirei!”. O ancião disse: “Se realmente queres, vai, renuncia ao mundo e depois vem morar em tua cela”. Ele foi, doou o que possuía, guardou para si cem moedas e retornou ao ancião. O ancião lhe disse: “Vai morar em tua cela”. Ele foi. Enquanto lá estava, seus pensamentos lhe disseram: “A porta está velha e deve ser trocada”. Foi, e disse ao ancião: “Meus pensamentos me dizem: A porta está velha e deve ser trocada”. O ancião lhe respondeu: “Ainda não renunciaste ao mundo; vai, renuncia ao mundo e depois volta aqui”. Ele foi, doou noventa moedas, guardou dez e disse ao ancião: “Eis, renunciei ao mundo”. Disse-lhe o ancião: “Vai, habita tua cela”. Ele foi. Enquanto lá estava, seus pensamentos lhe disseram: “O teto é velho e deve ser refeito”. Dirigiu-se ao ancião: “Meus pensamentos me dizem: o teto é velho e deve ser refeito”. Disse-lhe o ancião: “Vai, renuncia ao mundo”. O irmão foi, doou as dez moedas e retornou ao ancião: “Eis: renunciei ao mundo”. Enquanto estava em sua cela, seus pensamentos lhe disseram: “Tudo é muito velho, virá um leão e me devorará”. Expôs esses pensamentos ao ancião, que lhe disse: “Eu gostaria que tudo caísse encima de mim e que um leão viesse devorar-me, para ser libertado desta vida. Vai, habita tua cela e reza a Deus”.   
Padres do Deserto

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“Ó Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro. Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anela como a terra árida e sequiosa, sem água”
 Sl 62,2

“Se alguém te denunciar na justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil”       
Mt 5, 40-41




By Maurus


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