"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
_____________________________________________________________________________________________________

Music Play

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A glória do cristão - A Mística da Cruz.



“Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” Gl 6, 14.



* * *

Entre os judeus a Cruz era bem conhecida... tratava-se de um instrumento de suplício para os condenados da época, uma forma de punir os malfeitores daquele tempo; diríamos hoje que seria o resultado da sentença de pena de morte como é para alguns países ainda existente em nossos dias. Era um instrumento que causava pavor, inibia de alguma maneira as inclinações más contidas nas ações humanas, daquele contexto específico, e que numa linguagem espiritual e universal era inserida também os homens de todos os tempos, os de ontem, os de hoje e os do futuro.

É sempre a mesma realidade simbólica, podendo ser interpretada de acordo com as múltiplas experiências do homem no orbe. Ao mencionar o simbolismo que esta implica podemos dirigir, apontar esta realidade para aquela propriamente dita que é a Cruz como matéria física, mas também aquela espiritual que é vivenciada de forma mais concreta e contempla qualquer que seja o infortúnio interior de angustia, dor e de certo modo nos persegue, ao revelar em nós o nosso ser profundo ou quem de fato somos.

Ainda hoje a Cruz, deveras, nos causa pavor, algo até inconsciente, indesejada e imperceptível de glória alguma, contrário a ideia de glória que concebemos e conhecemos atrelada ao prazer palpável e até mesmo estético daquilo que possa nos atrair os sentidos pela contemplação, admiração, a mesma apresentada segundo os vários e grandes nomes da filosofia.

Contraposta a essa ideia, os padres do deserto viviam e sempre instruiu os seus discípulos a não se gloriar de nada, de forma alguma, visto que a ‘glória’ é degrau propício para a soberba do engano sobre qualquer comparação alheia. Há, no entanto, uma única glória para os cristãos, cantada pela Igreja, repetindo os mesmos sentimentos do apóstolo ao escrever à comunidade dos Gálatas, a qual no tempo da quaresma ressoa propício aos nossos ouvidos, e, que de certo, revela a profundeza do mistério de nossa salvação contida na Cruz:

“Quanto a nós, devemos gloriar-nos da Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, que é nossa salvação, nossa vida, nossa esperança de ressurreição e pelo qual fomos salvos e libertos”.

Na Cruz está contida toda a pessoa humana. Dizer como o profeta que Ele, Jesus, carregou sobre si nossos males é seguramente professar o cerne de toda a espiritualidade cristã. A glória da Cruz é sem dúvida alguma o mérito que esta recebeu de aí ser cravado o autor da vida, fruto do seio de uma virgem que se compreende também como sendo o verdadeiro fruto desta árvore agora bendita.

Ora, dizer que a glória do cristão parte desta realidade de fracasso é o mesmo que se colocar no lugar de todo homem que de alguma forma padece de algum mal, quer físico, psicológico ou espiritual, tal como fez Jesus, mas a partir de um olhar que contemple a si mesmo em primeiro lugar, com toda a realidade de frustração e misérias que serão transformadas pelas atitudes de amor e compaixão em vista do próximo.

domingo, 19 de outubro de 2014

O Deserto como espaço ininterrupto do SER.



***


As falas sobre deserto soam para alguns como uma composição poética e espiritualista... para outros é simplesmente um lugar, um espaço diferente de tantos outros lugares, característico, no meio do nada, onde sobressaem a realidade que lhe é própria: animais peçonhentos, tempestades de areia, sol escaldante e frio estabilizador. Fábulas, mitos, revelações, miragens, bem como aparições atreladas às fantasias das mais atraentes e por vezes enganosas são relatadas de forma as mais diversas com o intuito de transcendência do mistério que aí se desdobra, e que compreensivelmente enchem por certo os olhos daqueles que são atraídos por narrações de acontecimentos espirituais elevados. O deserto é sem dúvida alguma o cenário dos grandes acontecimentos e desfechos, marcando assim a experiência de quem se permite atravessá-lo como algo inusitado e eterno.  

A verdade é que o deserto traz em si mesmo o fascínio que lhe é peculiar, assim também como a sua realidade de terror momentâneo, para quem lhe escapa, e de perda para quem lhe é ferido de morte, o que lhe é bem mais adequado.  Há de alguma forma quem se veja aí, sob estes dois polos, e se identifique com todas as realidades mencionadas acima, ou aquelas que por ignorância me esquivei de mencionar. 

Por mais simples que seja o mistério que o rodeia é ainda muito maior, vai muito além do que a linguagem possa captar e externar, e só poderá ser compreendido em sua totalidade quando o ser for de fato confrontado com a nossa individuação.  Sendo assim, não seria estranho dizer ou até mesmo afirmar que ‘o Deserto é o espaço do SER’; é lugar por excelência onde a pessoa pode ‘SER’ de fato, sem máscaras, tal como se é, originalmente.

“No deserto somos quem somos... Não há como camuflar o ‘SER’ em vista de nossa vaidade e orgulho”

Por mais que queiramos ficar estacionados pela escolha de ficar fantasiando a realidade deste espaço tão distinto de tantos outros, a sua realidade nos remete a nossa real verdade e isso pode nos atingir até às bases de nosso profundo mistério, e que se esconde em Deus. 

Ao pensarmos no significado do termo ‘DESERTO’, e sua implicação, nos advêm duas realidades distintas: em primeiro lugar a ideia de deserto como concebemos, lugar ermo, inóspito, concreto, material, etc., e que se caracteriza em algo palpável, físico; o segundo é o da imanência, ou seja, da realidade que vai para além daquilo que se pode ver e tocar e que está no âmbito da espiritualização. Se por um lado temos a imagem do deserto físico, atrelado a este há também uma realidade para além do nosso entendimento e que se funde nas realidades interiores do quotidiano de cada ser. Uma jamais poderá ser compreendida sem a conotação que a outra implica e vice versa.

O deserto é o lugar da verdade, da verdade sobre mim mesmo, em primeiro lugar, que se une a todas as verdades, ao olhar para a humanidade inteira no orbe. No deserto nos deparamos com as nossas falsas fantasias de nós mesmos, somos o que somos sem a pressão que a sociedade de todos os tempos, ao longo dos séculos, fora construindo como sendo o padrão de vida ‘aceitável’.  É justamente aí, no deserto que nos apresentamos diante de Deus como de fato somos e não pode haver enganos de pessoa, ou seja, é aí mesmo no deserto onde O mesmo se deixa ser amado e pode amar na verdade, pois este mesmo jamais se deixa ser encontrado quando o engano é a vestidura de toda uma vida marcada sob o peso de ser quem não é.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

# Pesquisar neste blog: