"A escada para o Reino dos Céus está escondida em tua alma. Mergulha para dentro dos pecados que estão em ti mesmo e, assim, encontrarás ali uma escada pela qual poderás ascender" Isaac de Nínive.
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Obs.: Abaixo, tradução do versículo bíblico para outras línguas:

"POR ISSO A ATRAIREI, CONDUZI-LA-EI AO DESERTO E FALAR-LHE-EI AO CORAÇÃO" Oséias 2,16
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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Importância do Nome no âmbito bíblico



Prof. Dr. Francesco Bindella (*)


* * *

Na fé hebraica e cristã e também islâmica, a revelação do Nome divino “EHJEH ‘ASER ‘EHJEH” = “SOU AQUELE QUE SOU” na teofania da ‘sarça ardente’, representa em todo o arco do Antigo Testamento o degrau supremo da revelação que o Deus de Israel tinha participado ao homem. Também, dos vários nomes divinos veterotestamentários: ‘ELOHIM, JHWH, EL SHADDAY, ETC, ele é o único que tinha sido objeto de uma revelação específica já que, em todo o arco da Escritura, nunca mais ele recorrerá nesta sua completa formulação.

Desde o início desta pequena exposição, será conveniente recordar a importância significativa que o nome apresentava no âmbito da cultura hebraica e no uso bíblico. Mais do que um apelativo convencional linguístico, ele era considerado como expressivo da íntima essência da pessoa (ou coisa) designada, tanto que podia manter-se válido o dito: “Dize-me como te chamas e eu te direi quem és”, ou então: “A pessoa é como se chama”.

Um exemplo emblemático, comumente aduzido, é aquele de Nabal que significa ‘estulto’: “Nabal é o seu nome – lê-se em 1Sm 25,25 – e estultícia (nebalah) está com ele”.

Desde o início do texto bíblico, os nomes pessoais apresentam um significado essencial, são expressivos da natureza íntima da pessoa designada e do particular papel que ela exerce no quadro da ‘história salutis’ (assim Eva: Gn 3,20; Caim: Gn 4,1; Noé Gn 5,29; a cidade de Babel: Gn 11,9 etc).

As histórias dos patriarcas apresentam explicações etimológicas abundantes: Isaac recorda a risada de Abraão (Gn 17,17) e Sara (18,12;21,6); Jacó é aquele que astutamente agarra o calcanhar (Gn 25,26; 27,36; Os 12,4) e o seu irmão Esaú se chama Edom, porque era avermelhado (‘adômî: Gn 25,25) e tomou a ‘sopa avermelhada’ (25,30).

“Podemos assim dizer – escreve H. Bietenhard à conclusão de um exame sobre o significado do nome para as outras religiões em geral - que o nome é uma potência estritamente conexa com aquele que o carrega e que faz conhecer a essência; quando o nome é prenunciado ou invocado, a energia potencial de que é composto se transforma em energia atual”. “O nome não é somente uma designação; é a essencialidade reduzida à palavra”.

Há inclusive, alguns casos em que o próprio JHWH intervém para mudar o nome a um eleito: é o caso de Abraão (de ‘Abram a ‘Abraham: Gn 17,5), Sara (de Saray a Rarah: Gn 17,15) e de Jacó (de Ya’aqob a Yisra’el: Gn 32,28), enquanto para Isaac dá-se a imposição de nome no nascimento (Yitschaq Gn 17,19).

Há Também o caso, único, de mudança de nome a uma cidade: Jerusalém em perspectiva escatológica (Is 1,26; 62,2; Zc 8,3) e que, em relação a Abrão, Isaac, e Jacó, será dita “preparada por Deus para eles” (Hb 11,) qual objeto de sua herança, a eles associada o dom de um nome novo.

A mudança de nome a um homem por parte de Deus na Escritura é, ao mesmo tempo, profecia e investidura de fundação pela qual o eleito é constituído fundador e chefe em sentido orgânico: fundador de uma instituição de origem divina destinada a penetrar e a se perpetuar na história elevando-a a ‘história de salvação’; chefe, no sentido que tal direta iniciativa divina impõe uma ordem salvífica orgânica pela qual o eleito se torna lugar de incorporação para as multidões.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os Vícios segundo a tradição Monástica





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A doutrina dos oito vícios é um capítulo interessante da psicologia monástica. Foi desenvolvida, sobretudo, por Evágrio Pôntico e Cassiano, mas aparece também em Clímaco, em Máximo Confessor e em outros. Nela se distinguem estes oito vícios: gula, luxúria, cobiça, tristeza, ira, acídia (preguiça), vaidade e orgulho.

A cada um destes oito vícios Evágrio atribui um demônio, que determina suas características. Nem todos provocam os mesmos pensamentos. Um provoca pensamentos de cobiça, outro pensamentos de orgulho. Nisto os demônios se distinguem também de acordo com sua espécie. Alguns são leves e atacam de repente - por exemplo, o demônio da luxúria. O demônio da acídia, pelo contrário, é pesado e pouco a pouco oprime a alma com sua força cada vez maior.

A estrutura dos oito vícios se dá de acordo com a tríplice divisão da alma segundo Platão. Os três primeiros vícios são atribuídos à parte dos desejos (epithymia), os três seguintes a parte excitável ou emocional (thymos), e os dois últimos a parte espiritual (nous).

Os três primeiros vícios - GULA, LUXÚRIA e COBIÇA - são instintos básicos fundamentais. Poderíamos atribuí-los a fase oral, anal e fálica no desenvolvimento da primeira infância. Estes instintos fazem parte da natureza humana, e não nos é possível simplesmente eliminá-los. Eles têm que ser integrados, é preciso que lhes seja imposta a reta medida.

Os três vícios seguintes - TRISTEZA, IRA e ACÍDIA - são estados negativos de ânimo, muito mais difíceis de ser superados. Estes estados não se deixam dominar como os instintos. O reto convívio com eles exige um equilíbrio da alma e uma maturidade interior, a que só podemos chegar quando nos ocupamos honestamente com os pensamentos e os estados de ânimo, e quando “nos abrimos” sem reservas para Deus.

Mais difícil ainda é combater os dois últimos vícios - VAIDADE e ORGULHO -, porque o espírito é o mais difícil de ser domado. Aqui é onde com mais facilidade os demônios podem enganar alguém.
A respeito dos oito vícios Evágrio fala de diferentes maneiras. Ele pode falar de impulsos e estados de ânimo, ou de pensamentos de cobiça ou de ira, ou então falar do demônio da cobiça, do demônio da ira. Ele, por conseguinte, personifica o vício. É como se fosse um interlocutor autônomo, um demônio que tenta alguém e que procura impeli-lo para um instinto, para uma emoção ou para uma cegueira espiritual. E cada um dos oito demônios possui sua técnica própria. O fato de identificar os demônios com os oito vícios mostra mais uma vez que na demonologia de Evágrio não se trata tanto de fenômenos extraordinários, como possessão, mas sim do elemento tenebroso e mau que cada pessoa experimenta em si, da luta contra as falsas atitudes interiores que procuram se estabelecer em nós, desta maneira criando obstáculos a nossa abertura para Deus. Evágrio descreve um por um os oito demônios que se encontram por trás dos diversos vícios.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Oração da Tarde - Laudes Vespertinae




Ofício de Vésperas* 
(Em Francês)



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* Louvor da Tarde. É o nome eclesial que se dá à oração que se faz ao cair da tarde, Laudes Vespertinae.
 
Já no Judaísmo antigo, os crentes se reuniam para a oração matutina e vespertina, e tinham salmos e cânticos adequados a essas horas. Também os cristãos, inicialmente, talvez por devoção pessoal e, mais tarde, como oração oficial da comunidade, organizaram a oração matutina de Laudes, sobretudo a partir do século IV.

O último dos salmos desta hora toma-se de entre os chamados laudes ou louvores (sobretudo, os Salmos 148-150), que assim dão o seu tom laudativo, enquanto que o primeiro costuma ser um dos que falam da manhã ("Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro […]").

O Concílio recomendou que "as Laudes, como oração da manhã, e as Vésperas, como oração do entardecer, duplo eixo do ofício quotidiano segundo a venerável tradição de toda a Igreja, devem considerar-se as Horas principais e celebram-se como tais" (SC 89), e, sendo possível, com a participação do povo, de modo que se convertam em oração da comunidade cristã (cf. IGLH 40).

"O Ofício de Laudes destina-se a santificar o tempo da manhã… Esta Hora, recitada ao despontar da luz de um novo dia, evoca também a Ressurreição do Senhor Jesus, a luz verdadeira que ilumina todos os homens, o “Sol de Justiça”, o 'Sol nascente que vem do alto'" (IGLH 38).

Na estrutura actual de Laudes (cf. IGLH 41-45) reflectem-se bem estas conotações da luz, da ressurreição, do início da jornada: nos hinos, nos salmos, nas leituras breves, no cântico do Benedictus (o sol que nasce do alto), nas preces de invocação e oferecimento da jornada, e na oração conclusiva, depois do Pai-Nosso. Antes, se não se fez já no ofício de leitura, pode-se rezar ou cantar o Salmo Invitatório.


# Fonte: Liturgia das Horas

Oração da Manhã - Laudes Matutinae



 Ofício de Laudes*
(Em Francês) 


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* Em latim, significa 'louvores'. É o nome que se dá à oração eclesial que se faz pela manhã, laudes matutinæ.

Já no Judaísmo antigo, os crentes se reuniam para a oração matutina e vespertina, e tinham salmos e cânticos adequados a essas horas. Também os cristãos, inicialmente, talvez por devoção pessoal e, mais tarde, como oração oficial da comunidade, organizaram a oração matutina de Laudes, sobretudo a partir do século IV.

O último dos salmos desta hora toma-se de entre os chamados laudes ou louvores (sobretudo, os Salmos 148-150), que assim dão o seu tom laudativo, enquanto que o primeiro costuma ser um dos que falam da manhã ("Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro […]").

O Concílio recomendou que "as Laudes, como oração da manhã, e as Vésperas, como oração do entardecer, duplo eixo do ofício quotidiano segundo a venerável tradição de toda a Igreja, devem considerar-se as Horas principais e celebram-se como tais" (SC 89), e, sendo possível, com a participação do povo, de modo que se convertam em oração da comunidade cristã (cf. IGLH 40).

"O Ofício de Laudes destina-se a santificar o tempo da manhã… Esta Hora, recitada ao despontar da luz de um novo dia, evoca também a Ressurreição do Senhor Jesus, a luz verdadeira que ilumina todos os homens, o “Sol de Justiça”, o 'Sol nascente que vem do alto'" (IGLH 38).

Na estrutura actual de Laudes (cf. IGLH 41-45) reflectem-se bem estas conotações da luz, da ressurreição, do início da jornada: nos hinos, nos salmos, nas leituras breves, no cântico do Benedictus (o sol que nasce do alto), nas preces de invocação e oferecimento da jornada, e na oração conclusiva, depois do Pai-Nosso. Antes, se não se fez já no ofício de leitura, pode-se rezar ou cantar o Salmo Invitatório.


# Fonte: Liturgia das Horas

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Primícias do monaquismo Cristão - Origem




"...esses homens estão longe de si mesmos, como ébrios de bebida, ébrios em espírito de mistério e de Deus".              Pseudo-Macário, homilias espirituais.





* * *


O termo Padres do Deserto inclui um grupo influente de eremitas e cenobitas do século IV que se estabeleceram no deserto egípcio. 

As origens do monaquismo oriental se encontram nessas ermidas primitivas e comunidades religiosas. Paulo de Tebas foi o primeiro eremita do qual se tem notícia, a estabelecer a tradição do ascetismo e contemplação monástica, e Pacômio da Tebaida é considerado o fundador do cenobitismo, do monasticismo primitivo. 

Ao final do terceiro século, contudo, o venerado Antão do Egito orienta colônias de eremitas na região central. Logo, ele se torna o protótipo do recluso e do herói religioso para a Igreja oriental - uma fama devida em grande parte à vasta louvação na biografia de Atanásio sobre ele.
Esses primitivos monásticos atraíram um grande número de seguidores aos seus retiros austeros, através da influência de sua simples, individualista, severa e concentrada busca pela salvação e união com Deus. 

Os Padres do Deserto eram frequentemente solicitados para direção espiritual e conselho aos seus discípulos. Suas respostas foram gravadas e colecionadas num trabalho chamado "Paraíso" ou "Apotegmas dos Padres". 




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* (Por Emily K. C. Strand, tradução Jandira)



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Olha para estrela e invoca Maria




Respice stellam, voca Mariam!



*  *  *

“Tu que compreendes o quanto, neste mundo passageiro, somos muito mais como náufragos lançados de um lado para outro por tempestades e ondas do que como alguém que anda em terra firme, não desvies o olhar para longe desta estrela, se tu não queres ser oprimido pelas tempestades.

Se os ventos das tentações surgirem, se encontrares os rochedos das tribulações, olha para a estrela, invoca Maria.

Se fores abatido pelas ondas do orgulho, da ambição, da maledicência, da rivalidade, olha para a estrela, invoca Maria.

Se a ira ou avareza, ou desejos desordenados castigarem o navio de tua mente, olha para a estrela, invoca Maria.

Se preocupado com o tamanho de teus crimes, confuso com a consciência de teu grande erro, se aterrorizado pelo medo da justiça divina começas a ser engolido no abismo da tristeza, pela voragem do desespero, pensa em Maria.

Nos perigos, nas angústias, nas incertezas pensa em Maria, invoca Maria. Que ela nunca abandone os teus lábios, nem o teu coração; e para obteres a ajuda de sua oração, nunca esqueças o exemplo de sua vida. Se a segues, não te podes desviar; se lhe rezas, não te podes desesperar; se pensas nela não podes errar. Se ela te ampara, não cais; se ela te protege, nada temes; se ela te guia, não te cansas; se ela te é propícia, alcançarás a meta… ”*
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– Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que recorreram à vossa proteção, imploraram o vosso auxílio fosse por vós desamparado. Animado, pois, eu com igual confiança, a vós, ó Virgem, entre todas a singular, como a uma mãe recorro, de vós me valho, e gemendo sob o peso dos meus pecados, prostro-me aos vossos pés. Não rejeiteis as minha súplicas, Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Amém.

 

Oremos

Ó Deus, que no mistério da assunção da Virgem Maria contemplaste em seu corpo os anseios, as alegrias e tristezas de toda criatura humana. Concedei propício, nós vos suplicamos, que por sua materna intercessão estenda sobre nós o vosso olhar misericordioso, para que alcançando já aqui na terra gozar dos favores que o seu filho unigênito conquistou por toda humanidade na Cruz, possamos alegrar-nos eternamente convosco no Céu.  Por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sábado, 6 de julho de 2013

A Sabedoria através das Escrituras



Sentença do Rei Salomão   I Reis 3,5-28.



***

Livros Históricos (AT)


# Fala aos homens inteligentes a quem enchi do espírito de sabedoria, para que confeccionem as vestes de Aarão, de sorte que ele seja consagrado ao meu sacerdócio. Êxodo 28, 3.

# Eu o enchi do espírito divino para lhe dar sabedoria, inteligência e habilidade para toda sorte de obras... Êxodo 31, 3.

 # Associei-lhe Ooliab, filho de Aquisamec, da tribo de Dã. E dou a sabedoria ao coração de todos os homens inteligentes, a fim de que executem tudo o que te ordenei. Êxodo 31, 6.

 # ...encheu-o de um espírito divino para dar-lhe sabedoria, inteligência e habilidade para toda sorte de obras... Êxodo 35, 31.

# Josué, filho de Nun, ficou cheio do Espírito de Sabedoria, porque Moisés lhe tinha imposto as suas mãos. Os israelitas obedeceram-lhe, assim como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Deuteronômio 34, 9.

# Todo o Israel, ouvindo o julgamento pronunciado pelo rei, encheu-se de respeito por ele, pois via-se que o inspirava a sabedoria divina para fazer justiça. I Reis 3, 28.

# Deus deu a Salomão a sabedoria, uma inteligência penetrante e um espírito de uma visão tão vasta como as areias que estão à beira do mar. I Reis 4, 29.

# Sua sabedoria excedia a de todos os orientais e a de todo o Egito. I Reis 4, 30.

# De todos os povos vinham pessoas ouvir a sabedoria de Salomão, da parte de todos os reis da terra que tinham ouvido falar de sua sabedoria. I Reis 4, 34.

# Hirão, ouvindo a mensagem de Salomão, encheu-se de grande alegria, e disse: Bendito seja o Senhor, que deu a Davi um filho cheio de sabedoria para governar esse grande povo! I Reis 5, 7.

# O Senhor tinha dado sabedoria a Salomão, conforme prometera. Houve paz entre Hirão e Salomão, e fizeram aliança entre si. I Reis 5, 12.

# Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, a casa que ele tinha feito... I Reis 10, 4.

# ...e disse ao rei: É bem verdade o que ouvi a teu respeito e de tua sabedoria, na minha terra. I Reis 10, 6.

 # Eu não quis acreditar no que me diziam, antes de vir aqui e ver com os meus próprios olhos. Mas eis que não contavam nem a metade: tua sabedoria e tua opulência são muito maiores do que a fama que havia chegado até mim. I Reis 10, 7.

# Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! I Reis 10, 8.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O Louvor como sustentação do mundo







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"Ut in omnibus glorificetur Deus"


Para compreendermos os mistérios divinos temos sempre que, a partir de um esforço pessoal e interior (Graça), tentar enxergar para além dos acontecimentos à nossa volta, e que por certo carregam traços do Criador de todas as coisas.

Como já disse Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino retomou em seus estudos, lemos: “A Graça supõe a natureza”. Esta mesma sentença implica de nossa parte uma abertura ainda maior em relação ao desvelar divino que não exclui jamais a corelação entre Deus e Sua criatura, e que de forma toda misteriosa se deixa ser compreendido no chão, no que há de mais profundo de toda a realidade humana.

A questão do ‘louvor’ está aqui atrelada ao elogio que podemos tecer sobre alguém ao se tratar de uma ação que nos cause admiração ou até prazer. É algo que nos toca e nos convida de dentro – por ser o que há de mais verdadeiro em nós – nos impele pra fora, através da palavra, ao reconhecer numa ação um bem esperado, ou até mesmo que não pudéssemos esperar e que repentinamente tivesse surgido, atraindo toda a nossa atenção, sem deixar de excluir nossas relações humanas quotidianas e ir para além do que nossas experiências possam nos dizer. De certo, essa também é um dado que nos revela pistas para a compreensão de algo entrelaçado ao divino... 

Imaginemos, portanto, alguém que esteja à frente de seu trabalho, em seu setor específico, onde as demandas lhe sobrevêm constantemente por parte de seus subordinados, e, que, por realizá-las muito bem, este mesmo receba o elogio que lhe é devido por sua capacidade em tudo que faz. Com toda certeza não é difícil de fantasiar a cena, de como o mesmo, já exaltado como bom no que faz, trabalhará ainda mais por atender de forma bem mais acentuada a todos os pedidos que a ele chegam com o intuito de realizá-los cada vez melhor. É algo estimulador, convidativo ao mesmo tempo, que o chefe, ou vice-versa, continue perseverante em atenta disposição ao que possa dar do que existe de melhor em si mesmo e poder dessa maneira disseminar o bem-estar entre todos os que colaboram numa mesma empresa, ou tipo de governo; e o bem-estar está sempre voltado para a imagem que se pode passar em vista de seus clientes ou súditos.

domingo, 2 de junho de 2013

Heranças do Deserto Cristão







As comunidades contemplativas que temos conhecimento hoje têm por fundamento a vasta experiência adquirida dos padres e mães do deserto. Algumas se concretizaram do desejo de viver a mesma forma de seguimento, sob a orientação desses homens e mulheres que alcançaram pela austeridade de vida um conhecimento profundo do que é o homem, ao passo que ascendiam em sua intimidade com Deus.

sábado, 11 de maio de 2013

Na Escola do Verbo Encarnado





 ***

Com a inauguração do Cristianismo, o mundo pôde perceber, respirar um novo ar, na medida em que gradativamente se abria à uma grande novidade, ‘a exaltação do homem e sua dignidade’, com o surgimento do Filho de Deus na terra. O salmista de forma toda particular e precisa já o mencionara quando inspirado em suas preces escreveu:
 
Está perto a salvação dos que o temem, e a glória habitará em nossa terra”.
Sl 84,10.

E continua:

A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus”    Sl 84,11.

Estes versículos podem nos dar pistas para uma reflexão na compreensão do que foi o homem no passado, e de certa forma nos abrir os olhos para quem é o homem no presente ao passo que nos dobramos em questionar sobre o que será do mesmo no futuro a partir do advento de Cristo, mais precisamente de Sua mensagem libertadora em nosso meio, como de Seu projeto ao longo dos séculos, até os nossos dias.

A partir de um olhar que contempla a história humana presente, podemos dizer que o homem de alguma forma chegou, embora não ainda de forma completa, ao que Deus realmente sonha ao pensar na humanidade. Se por um lado existe ainda um certo tipo de mal, proveniente do egoísmo no coração do homem a ser sanado, por outro, podemos denotar mesmo que a passos lentos, o progresso do mesmo em vista do bem que contemple o homem todo em suas reais necessidades, quer materiais ou espirituais.

sábado, 4 de maio de 2013

Espiritualidade Pascal Cristã e sua origem



Dom Emanuel d’Able do Amaral, OSB*




A Espiritualidade Pascal e a Iniciação Cristã (1)

Os primeiros séculos da vida cristã foram marcados por uma grande espiritualidade. No alvorecer do cristianismo as comunidades foram marcadas por uma espiritualidade pascal. Ao lermos com atenção os escritos do Novo Testamento e os primeiros textos cristãos, percebemos a força da espiritualidade nascida do evento da ressurreição do senhor. A teologia da Igreja primitiva é, portanto, uma teologia pascal. Por isso mesmo, o dia da iniciação cristã era considerado o mais importante da vida de um cristão. Era o dia de seu nascimento para Deus e a convicção de sua pertença à comunidade dos eleitos, que se reunia semanalmente para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo.

Essa espiritualidade era marcada pela alegria, porque nascida no contexto pascal. Era também uma espiritualidade missionária, porque os primeiros cristãos sempre anunciavam, com suas próprias vidas, a Boa Nova. Portanto, essa espiritualidade pascal era carregada de grande dinamismo, transmitida pela palavra e pelos atos dos primeiros cristãos, e capaz de transformar pessoas e sociedades inteiras. 

A iniciação cristã, que compreendia a recepção de três sacramentos – Batismo, Eucaristia e Confirmação – era realizada na noite da Vigília Pascal e compreendia a base sobre a qual era construída toda a vida espiritual e eclesial dos primeiros cristãos.  A partir dessa celebração o batizado devia expressar a sua conversão a Cristo por palavras e atos, mudando radicalmente de vida e deixando transparecer para todos a vida nova emergida das fontes batismais.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Contextualização pessoal da Palavra



A Palavra na história pessoal vivida. Momentos de abertura e fechamento à voz interior: Um relato concreto*:





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Com que coragem, eu, um jovem monge, desprovido daquela autoridade credenciada pela experiência de fé de anos e anos construída no natural e sempre novo cotidiano monástico, aventura-se a tornar conhecida minha intimidade com Deus por meio de Sua Palavra?

Respondo que, a única autoridade que se possa invocar para falar a outrem é o da ‘busca’ e o da ‘verdade’. Pela primeira, ainda que não seja longa, tem sua real experiência de vida. Pela segunda, é permitido a tal jovem monge dar testemunho de sua história pessoal de fé e meditação na perene atualidade da Palavra de Deus: A Sagradas Escrituras. Por ambas, se realiza aquela busca mútua de Deus para com sua criatura predileta que é o homem, e do mesmo para Deus que é a Verdade. 

É, pois, a partir dessa mútua procura entre Deus e o homem, a qual é sempre precedida por Ele – como nos atesta a Sagradas Escrituras e seguida fielmente pelo Magistério ao longo dos séculos – é que se inicia esta minha trajetória de fé, de busca, o que não é senão minha resposta à Palavra que se auto-revela em minha particularidade, e, se autorrevelando, me torna claro os Seus desígnios, me concedendo a partir de minha abertura à graça de responder a Sua Vontade.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A oração que brota do coração



A Oração de Jesus*





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1. O CONTEXTO ECLESIAL  TEOLÓGICO/SACRAMENTAL:


Muito importante para compreender esta oração é situá-la em seu contexto teológico e eclesial: o hesicasta não está além da Igreja, ele se centra na Igreja, se faz integralmente um homem da Igreja, capaz de “fazer eucaristia em todas as coisas” como pedia o Apóstolo (I Tes 5,18). Que o hesicasmo constitui a contrapartida cristã do yoga que re-situa, numa atitude propriamente de reencontro pessoal e de graça, uma exploração da interioridade que também as espiritualidades asiáticas praticam, é mais que provável. E isto se deve à estrutura mesma do homem, criado à imagem de Deus.

Voltaremos a falar sobre isto. Porém, posto que só Cristo pode recapitular todas as coisas e colocar tudo em seu verdadeiro lugar, o hesicasmo aparece como fundamentalmente crístico, como uma ascese cujo fim é a tomada de consciência atuante da Igreja, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo e Casa do Pai...


A) É NECESSÁRIO, EM PRIMEIRO LUGAR, RECORDAR ALGUMAS APROXIMAÇÕES TEOLÓGICAS:

Quando, no Ocidente, pensamos na noção de natureza, o fazemos através de uma sensibilidade filosófica modelada pelo tomismo tardio, logo, pelo dualismo cartesiano, finalmente, pelas ciências contemporâneas que reabilitam - contra as ciências humanas - esse "paradigma perdido" a partir dos dados da biologia, da ecologia e da etología. Assim, cada vez, temos a impressão de que a graça vem juntar-se à natureza para contrariá-la ou aperfeiçoá-la... No Oriente cristão, me parece, a graça é sentida como presente em tudo o que existe. A verdadeira natureza dos seres e das coisas é justamente essa transparência à graça, esse dinamismo de união com as energias divinas. Pois, a graça é incriada, é Deus mesmo que se faz participável voluntariamente, permanecendo, ao mesmo tempo, o Totalmente Outro, o Inacessível.
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